Gerhard Mayer, pesquisador do IGPP (Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene), instituição alemã reconhecida por seu rigor científico na análise de fenômenos anômalos, é o autor do artigo "UFOS IN DEN MASSENMEDIEN - ANATOMIE EINER THEMATISIERUNG" (OVNIs na mídia de massa - anatomia de um tópico).
O texto foi originalmente publicado em 2008 no livro "Von Menschen und Ausserirdischen" (De humanos e alienígenas), organizado por Michael Schetsche e Michael Eggebrecht, pela editora Transcript, e é considerado uma análise abrangente e crítica da cobertura jornalística dos OVNIs na imprensa alemã. A reputação da publicação é sólida no meio acadêmico e o texto é uma contribuição notável à sociologia da mídia e da anomalia.
OVNIs
O fenômeno dos OVNIs, longe de ser uma curiosidade marginal, tornou-se um espelho das tensões culturais, das crenças coletivas e dos interesses jornalísticos ao longo das últimas décadas. O texto de Mayer investiga como os veículos de massa alemães, especialmente o BILD e o DER SPIEGEL, moldaram e refletiram as percepções públicas sobre os discos voadores, os alienígenas e as narrativas conspiratórias.
Com base em uma análise estatística de mais de 2.400 artigos, o autor apresenta uma anatomia da tematização ufológica na mídia, discutindo estratégias discursivas, oscilações editoriais, e os efeitos sociais e culturais dessas representações.
Quem é Gerhard Mayer
Gerhard Mayer é psicólogo e pesquisador no IGPP, instituto sediado em Freiburg, Alemanha. Com uma trajetória dedicada à investigação científica de fenômenos parapsicológicos, anômalos e culturais marginais, Mayer é conhecido por seu olhar equilibrado, crítico e fundamentado. Sua produção abrange desde estudos empíricos até análises teóricas, sempre buscando compreender como crenças não convencionais são tratadas pela ciência e pela cultura.
O sensacionalismo da BILD
A cobertura do jornal BILD, tabloide de maior circulação na Alemanha, é apresentada por Mayer como um caso exemplar de exploração sensacionalista. Desde suas primeiras edições nos anos 1950, o BILD tratava de OVNIs com títulos bombásticos e imagens impactantes, oscilando entre o deboche e o fascínio.
O autor destaca que a postura do BILD nunca foi estável, variando conforme o contexto cultural, os interesses comerciais e as preferências individuais de seus redatores. Mesmo nos anos 2000, a presença de pseudo-sensações, como avistamentos absurdos ou seitas ufológicas (caso dos raelianos), continuava rendendo espaço — com manchetes como “Nós não estamos sós”.
Mayer analisa ainda como a estética visual, a escolha de palavras e a seleção de fontes eram usadas para criar ambiguidade, mantendo o leitor preso entre a descrença e o encantamento. A estratégia central era sempre manter o fenômeno como entretenimento de massa, mais do que como fato investigável.
O racionalismo do DER SPIEGEL
Por outro lado, o DER SPIEGEL, tradicional revista de jornalismo investigativo, é apresentado como representante do polo racionalista. Seu estilo editorial se caracterizava por ironizar, desconstruir e, muitas vezes, ridicularizar os protagonistas do fenômeno OVNI.
Nos anos 1940 e 50, as reportagens do SPIEGEL viam os discos voadores como “fantasias de verão”, comparáveis ao monstro do Lago Ness. Nos anos 1960, mesmo figuras como J. Allen Hynek ou Donald Keyhoe eram retratadas com desdém, insinuando motivações financeiras ou crendices irracionais.
Com o tempo, o SPIEGEL passou a adotar uma abordagem de “normalização pela desqualificação”, muitas vezes recorrendo a detalhes irrelevantes (como cachês recebidos por testemunhas) para desacreditar casos.
Nos anos 1990, mesmo com a popularização do SETI, da série Arquivo X e do aniversário do Caso Roswell, o SPIEGEL manteve uma postura crítica. O autor argumenta que essa rigidez ideológica impedia uma análise mais aberta e complexa do fenômeno.
O papel da SPIEGEL ONLINE e do jornalismo digital
O SPIEGEL ONLINE, versão digital da revista, apresenta uma abordagem mais variada. Por conter colaborações de diferentes fontes e incorporar matérias de agências, seus textos oscilam entre a neutralidade informativa e o tom tradicional do SPIEGEL impresso.
Isso permite, segundo Mayer, que temas como as declarações do governo japonês sobre OVNIs ou o incidente da CENAP (grupo cético alemão) sejam apresentados com menor viés. Ainda assim, as pautas principais seguem os moldes tradicionais: ou são reportagens de entretenimento, ou tentativas de deslegitimação dos crentes.
A influência das “ondas ufológicas” e dos contextos históricos
Um dos achados mais interessantes do estudo é a identificação de cinco ondas de interesse midiático ao longo do tempo, cada uma associada a contextos sociais e geopolíticos específicos:

- Guerra Fria (anos 1950) – OVNIs eram vistos como possíveis armas inimigas.
- Corrida Espacial (anos 1960) – O fenômeno foi ressignificado à luz da exploração do cosmos.
- Movimento New Age (anos 1970) – A ligação entre espiritualidade e OVNIs ganhou força.
- S.E.T.I. (anos 1990) – O SETI, o Caso Roswell e a cultura pop reavivaram o interesse.
- Revelação (anos 2000) – Abertura de arquivos secretos e descobertas astronômicas reacenderam o tema.
Essa cronologia mostra que o fenômeno OVNI sempre serviu como tela de projeção de medos, esperanças e conflitos culturais.
Estratégias de marginalização e construção da ignorância
Mayer identifica duas estratégias centrais na forma como a mídia alemã abordou o fenômeno:
- A espetacularização banalizada – Tornar o fenômeno risível ou excessivamente fantasioso, como faz o BILD.
- A racionalização simplista – Reduzir todos os relatos a fraudes, erros ou delírios, como faz o SPIEGEL.
Ele também mostra como figuras como Werner Walter, do grupo CENAP, se tornaram “autoridades midiáticas” graças a seu alinhamento com o ceticismo dominante, mesmo sendo leigos em pesquisa científica formal.
Essa construção midiática acaba por gerar uma ignorância estratégica, em que o fenômeno é mantido à margem do debate sério — nem provado, nem refutado, mas sempre trivializado.
Concluindo...
O artigo de Gerhard Mayer é uma leitura essencial para quem deseja compreender não apenas como os OVNIs foram tratados pela imprensa, mas por que foram tratados assim. Ele mostra que a maneira como se fala sobre o desconhecido — seja com sarcasmo, medo ou fascínio — revela mais sobre a sociedade que comunica do que sobre o objeto do discurso.
A mídia alemã, ao longo das décadas, alternou entre ridicularizar, espetacularizar e domesticar o fenômeno OVNI. E isso não apenas moldou o imaginário coletivo, mas também limitou a possibilidade de um debate mais honesto, aberto e multidisciplinar sobre um tema que, no mínimo, deveria continuar a ser investigado.
#OVNI #UFO #UAP #Mídia #UFOsNaMídia #GerhardMayer #JornalismoUfológico #CulturaUFO #MídiaAlemã
Comentários