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AVISTAMENTOS DE OVNIS E DENSIDADE POPULACIONAL



O artigo “A Review on the Relation between Population Density and UFO Sightings” (Uma revisão sobre a relação entre densidade populacional e avistamentos de OVNIs), publicado em 2015 por Julio Plaza del Olmo na Journal of Scientific Exploration, realiza uma profunda revisão dos estudos realizados ao longo de quase cinco décadas sobre a possível relação entre densidade populacional e a frequência de avistamentos de OVNIs. Com uma abordagem estatística rigorosa e um compromisso em reconciliar conclusões contraditórias, o artigo representa um marco na sistematização deste tema específico dentro da ufologia.


O autor

Julio Plaza del Olmo é um pesquisador espanhol com foco em fenômenos anômalos, particularmente aqueles associados a avistamentos de OVNIs. Sua atuação está centrada na aplicação de métodos estatísticos e revisões críticas de dados históricos. Neste trabalho, ele demonstra habilidade em cruzar dados de diferentes épocas e regiões, oferecendo uma visão abrangente e esclarecedora sobre um dos aspectos mais debatidos da ufologia empírica.


A primeira lei negativa de Vallée e suas repercussões

Jacques Vallée, um dos ufólogos mais influentes da história, foi o primeiro a explorar, em 1966, a relação entre densidade populacional e avistamentos de OVNIs. Ele concluiu que existia uma correlação inversa, ou seja, quanto mais isolado o local, maior a ocorrência de avistamentos, especialmente pousos. Essa "primeira lei negativa" sugeria que havia uma inteligência por trás dos OVNIs que evitava centros urbanos.


Entretanto, estudos posteriores demonstraram que Vallée utilizou variáveis diferentes em suas análises. Ao usar a métrica de relatórios per capita versus densidade populacional, ele inadvertidamente confundiu a relação direta entre número absoluto de relatos e densidade populacional, o que acabou sendo um ponto-chave de contradição com outras pesquisas.


Estudos da década de 1970: divergências metodológicas

Durante os anos 1970, diferentes autores exploraram essa mesma relação com conclusões diversas. Jacques Bonabot, analisando casos na Bélgica, confirmou a lei negativa de Vallée apenas para pousos e encontros próximos. Por outro lado, David Saunders encontrou uma correlação direta entre número de relatos e população com base no banco de dados UFOCAT, com mais de 18.000 casos.


Claude Poher e o próprio Vallée, em 1975, identificaram que entre 70% e 80% dos avistamentos ocorriam em locais isolados. No entanto, a análise estatística subsequente de Poher (1976), com 220 relatos, apontou para uma possível relação direta com a densidade populacional. Fatores como a visibilidade atmosférica e a influência de grupos de investigação locais (efeito do investigador) também foram considerados como interferências importantes.


Estudos posteriores e a consolidação de padrões

Nos anos 1980 e 1990, pesquisadores como Fernández & Manuel e Ballester Olmos aprofundaram os estudos, empregando modelagens mais elaboradas. Embora alguns resultados indicassem relações diretas entre avistamentos e densidade populacional, outros, como Verga, observaram que a maioria dos avistamentos ocorriam em áreas onde havia alta probabilidade de presença de testemunhas.


Esses estudos foram fundamentais para separar as interpretações: uma coisa é onde os OVNIs aparecem, outra é onde eles são efetivamente testemunhados. A visibilidade e o número de observadores passam a ser fatores mais determinantes do que a suposta intenção do fenômeno em evitar ou buscar certas regiões.


Revisão crítica dos dados e variáveis utilizadas

O principal mérito do artigo de Plaza del Olmo é demonstrar que os resultados aparentemente contraditórios se devem à utilização de variáveis diferentes entre os estudos: número total de relatos (N), número de relatos por habitante (N/P), por área (N/S), densidade populacional (δ), entre outros.

Ao aplicar coeficientes de correlação consistentes entre esses conjuntos de dados, ele revela que todos seguem o mesmo padrão: o número total de relatos aumenta com a população e a densidade, mas de forma sublinear. Ou seja:

Embora áreas mais populosas apresentem mais avistamentos, o aumento não é proporcional ao crescimento populacional.


A descoberta da sublinearidade

Uma das descobertas mais relevantes é a sublinearidade da relação: quando a população dobra, o número de relatos cresce, mas menos do que o dobro. Esse comportamento foi observado em diversos bancos de dados, incluindo o FOTOCAT (relatos com imagens), o CUCO (casuística da Península Ibérica) e o ALLCAT (pousos na Espanha).

Matematicamente, a relação é expressa como: N ~ P^a, onde a < 1, implicando que N/P ~ P^(a-1), o que gera uma correlação inversa com densidade populacional. Assim, mesmo quando há mais relatos em lugares populosos, proporcionalmente cada habitante tem menos chance de ver um OVNI.


Isolamento geográfico vs. densidade: compreensão refinada

Plaza del Olmo destaca que a densidade populacional é uma média que disfarça realidades locais. Uma província pode ser densa, mas ter grandes espaços rurais isolados onde, de fato, os avistamentos ocorrem. Mesmo em cidades, parques ou áreas menos iluminadas podem favorecer avistamentos. Logo, não se trata de evitar populações, mas de considerar onde há presença provável de testemunhas com visibilidade adequada.


Concluindo...

O artigo de Plaza del Olmo representa um divisor de águas ao propor uma unificação metodológica dos estudos sobre OVNIs e densidade populacional. Ele mostra que não existe contradição real, apenas comparação entre variáveis distintas.

A impressão de que OVNIs aparecem mais em lugares ermos é, muito provavelmente, consequência de condições ambientais mais favoráveis à observação, e não de uma suposta “preferência” dos fenômenos por regiões desertas ou de baixa densidade populacional.

A conclusão é que é mais provável haver relatos onde há mais pessoas, mas esse crescimento é sublinear. Fatores como luz urbana, clima, e efeito do investigador afetam essa proporção. A velha ideia de que OVNIs evitam grandes centros perde força frente à análise estatística robusta.

O próximo passo, como ele sugere, é aprimorar modelos como o de López et al. para simular distribuições reais com mais variáveis, incluindo luz artificial, ondas de avistamentos e ações de divulgação que afetam o comportamento das testemunhas.



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