Lambros D. Callimahos foi um personagem multifacetado cuja trajetória uniu talento artístico, serviço militar e inteligência estratégica. Conhecido inicialmente como um flautista virtuoso de reconhecimento internacional, Callimahos serviu nas forças armadas dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, onde se destacou em criptologia. Após a guerra, dedicou-se profundamente ao campo da criptanálise, tornando-se uma das figuras-chave da Agência de Segurança Nacional (NSA). Por mais de vinte anos, lecionou o curso sênior de criptoanálise da NSA e escreveu textos fundamentais sobre o tema, publicados em enciclopédias de renome como a Encyclopaedia Britannica e a Collier’s Encyclopedia.
Apesar de seu perfil técnico e reservado, Callimahos também se aventurou por temas mais especulativos. Um de seus trabalhos mais intrigantes, e hoje objeto de crescente interesse, é o artigo Communication with Extraterrestrial Intelligence, originalmente apresentado como uma palestra no Cosmos Club, em Washington.
Sobre o artigo e seu impacto
O artigo “Communication with Extraterrestrial Intelligence” (1971), classificado por anos como de uso restrito, foi produzido em um contexto em que a possibilidade de vida inteligente fora da Terra começava a ser considerada seriamente pela comunidade científica. Callimahos traça um panorama fascinante das implicações, desafios e estratégias de comunicação com civilizações alienígenas avançadas. Embora à época não tenha sido amplamente divulgado, o documento tornou-se referência cult entre estudiosos de ufologia, SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) e história da criptografia.
Sua relevância se sustenta não apenas pelo conteúdo ousado, mas pela autoridade de seu autor no campo da análise de códigos e linguagens. Mais do que especular, o texto oferece modelos técnicos plausíveis de comunicação interplanetária, antecipando debates contemporâneos. A seguir, exploramos os principais temas abordados no documento.
A multiplicidade de civilizações no universo
Callimahos inicia com uma afirmação provocadora: “Nós não estamos sós no Universo.” Essa premissa, que décadas atrás soava como ficção científica, já era então, segundo ele, amplamente aceita por cientistas sérios. A partir de estimativas feitas por radioastrônomos como Sir Bernard Lovell e Dr. Frank Drake, o autor aponta para a existência potencial de bilhões de civilizações avançadas apenas em nossa galáxia.
Ele questiona, então: “Onde está todo mundo?” — antecipando o que hoje é conhecido como o Paradoxo de Fermi. Callimahos sugere várias hipóteses: talvez já tenham tentado contato conosco e desistido; ou tenham se autodestruído; ou estejam à nossa espera, monitorando sinais não aleatórios que enviamos.
A ideia de civilizações que surgem, alcançam ápices tecnológicos e depois desaparecem é apoiada por reflexões do astrônomo soviético Iosif Shklovsky. Entre os riscos citados: autodestruição nuclear, colapso cognitivo por excesso de informação, especialização extrema e até a criação de inteligências artificiais fora de controle.
A busca por sinais: os primeiros passos do SETI
O artigo narra os primórdios das tentativas humanas de ouvir o cosmos. Em 1960, o Projeto Ozma, liderado por Frank Drake, usou o rádio para escutar possíveis transmissões extraterrestres vindas das estrelas Epsilon Eridani e Tau Ceti. A frequência usada, 1420 MHz (onda de 21 cm), é emblemática: corresponde à emissão natural do hidrogênio, elemento mais abundante no universo — o que a tornaria um “canal universal” de comunicação.
Callimahos também destaca a primeira iniciativa ativa da humanidade nesse campo: a mensagem de Arecibo, enviada em 1974 para o aglomerado Messier 13. Apesar de sua intenção simbólica, essa transmissão marcou uma nova fase: a de civilizações que não apenas escutam, mas tentam dialogar.
Além do rádio, outras tecnologias — masers, lasers, e até partículas como os neutrinos — são citadas como potenciais vetores de comunicação, dependendo do nível tecnológico da civilização envolvida.
Como uma civilização superior chamaria nossa atenção?
Segundo Callimahos, uma civilização interessada em contato iniciaria com sinais que se distinguem do ruído cósmico, como sequências de números naturais ou primos. Depois disso, poderiam vir formas geométricas, representações visuais simples, e, gradualmente, “lições de linguagem” e dados técnicos.
Ele descreve uma hipotética mensagem estruturada em padrões binários, como uma matriz visual que, ao ser interpretada corretamente, revela informações sobre os emissores: sua localização, morfologia, base química da vida e até altura média.
“A inteligência por parte do remetente é então o fator importante” escreve ele, destacando que a clareza deve estar na origem da mensagem, não na capacidade do receptor. A proposta é de uma “criptografia inversa”: em vez de esconder, o código visa ser o mais autoexplicativo possível.
Lincos, matemática e as linguagens cósmicas
Um dos eixos centrais do texto é a exploração de como transmitir ideias entre inteligências radicalmente diferentes. Callimahos aborda propostas como a linguagem Lincos (Lingua Cosmica), de Hans Freudenthal, baseada em lógica simbólica. Embora inovadora, ele a considera excessivamente complexa.
Mais promissoras, segundo ele, são mensagens estruturadas com base em matemática universal — a linguagem dos números. Callimahos propõe um exemplo elaborado de transmissão interestelar com 32 símbolos representando números, operadores, conceitos lógicos e sequências de linguagem. As transmissões simuladas evoluem de simples contas até fórmulas complexas, como a identidade de Euler: eiπ + 1 = 0.
Esse crescendo evidencia como civilizações avançadas poderiam não apenas se comunicar, mas ensinar — transmitindo progressivamente conceitos científicos e até filosóficos.
Concluindo...
O texto de Callimahos, escrito com conhecimento técnico e ousadia intelectual, é mais do que uma especulação sobre alienígenas: é um manual de primeira resposta a um contato cósmico. Ao unir criptologia, linguística e ciência espacial, ele delineia como poderíamos reconhecer, entender e responder à mensagem de uma mente além da Terra.
Talvez jamais recebamos tal mensagem. Mas se ela chegar, Callimahos nos oferece um esboço de como começar a decifrá-la — e, quem sabe, iniciar o diálogo mais importante da história da humanidade.
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