O canal Event Horizon (@EventHorizonShow) é uma verdadeira joia para os entusiastas da ciência de ponta, especialmente nas áreas de astrofísica, cosmologia, inteligência artificial e vida extraterrestre. Já contou com a participação de alguns dos maiores nomes da ciência contemporânea, incluindo Michio Kaku, Sabine Hossenfelder e Roger Penrose. Suas entrevistas são conhecidas por aprofundarem temas complexos com clareza, sem abrir mão do espírito questionador que move as grandes descobertas da humanidade.
No vídeo intitulado “Why Would Aliens Be Here?”, o canal traz uma conversa fascinante entre Avi Loeb e Robin Hanson. Loeb é astrofísico e professor da Universidade de Harvard, fundador do Harvard’s Black Hole Initiative e diretor do Galileo Project, um ambicioso esforço para investigar possíveis tecnologias de origem extraterrestre próximas da Terra. Hanson, por sua vez, é economista e futurista, professor da Universidade George Mason, conhecido por teorias provocativas como a “Great Filter” e o conceito dos “grabby aliens”, civilizações que se expandem de forma agressiva pelo cosmos.
Nesta conversa profunda e repleta de provocações intelectuais, os dois pensadores discutem desde a viabilidade de visitas alienígenas até o tipo de comportamento que essas civilizações poderiam demonstrar. Vamos explorar os principais pontos discutidos no vídeo.
A pergunta central: por que alienígenas estariam aqui?
Logo de início, o apresentador Nick Hinton provoca: “Why would aliens be here?” – uma pergunta que é ao mesmo tempo simples e desconcertante. Avi Loeb propõe que a resposta pode não estar em suposições conspiratórias ou em ficções populares, mas na própria estrutura da ciência. Para ele, há evidências observacionais suficientes para justificar uma investigação aberta e séria sobre possíveis sondas interestelares que visitam nosso planeta. Ele cita como exemplo o objeto interestelar Oumuamua, que exibiu aceleração não gravitacional e características não compatíveis com cometas ou asteroides conhecidos.
Robin Hanson, por outro lado, adota uma abordagem mais estatística. Ele argumenta que se alienígenas realmente estivessem aqui, deveríamos esperar uma frequência muito maior de encontros – algo que ele não vê nos relatos disponíveis. Ele também propõe que, caso uma civilização alienígena tenha chegado até aqui, é provável que ela tenha comportamento expansivo, como colonizar ou transformar recursos locais de forma visível, o que não parece estar acontecendo.
Ambos reconhecem, no entanto, que a ausência de provas visíveis não é uma prova de ausência. “Talvez eles estejam aqui, mas não como esperamos”, sugere Loeb, defendendo a hipótese de que sondas pequenas e não tripuladas podem ter sido enviadas em missões exploratórias – de forma análoga aos rovers que a humanidade envia a Marte.
O paradoxo do silêncio cósmico
Um dos tópicos mais intrigantes da entrevista é o chamado Paradoxo de Fermi, que se resume na pergunta: “Se o universo é tão vasto e antigo, onde estão todos?” Robin Hanson oferece sua famosa teoria do Grande Filtro como possível explicação. Segundo essa ideia, existe alguma barreira – tecnológica, ecológica ou social – que impede civilizações de se desenvolverem até o ponto de colonizar galáxias inteiras. Pode ser que poucas passem por esse filtro, ou que nenhuma tenha passado até agora.
Loeb contra-argumenta que talvez estejamos olhando na direção errada. Ele afirma que o comportamento da comunidade científica muitas vezes é regido mais por convenções do que por observações. “A ciência deve seguir as evidências, não opiniões prévias”, diz ele. Isso levanta a possibilidade de que os sinais já estejam entre nós, mas não estejam sendo interpretados como tal devido ao preconceito institucional contra o tema extraterrestre.
Hanson adiciona uma camada extra ao paradoxo: a ideia dos grabby aliens – civilizações que se expandem rapidamente e transformam o ambiente de forma visível. Se esses seres existem, seus sinais já deveriam estar alterando significativamente o cosmos. A ausência desses sinais pode indicar que tais civilizações ainda não emergiram ou que não sobrevivem tempo suficiente para causar esse impacto.
A questão das sondas: tecnologias alienígenas em nossa vizinhança?
Talvez o ponto mais controverso da conversa esteja na possibilidade de que objetos como Oumuamua sejam sondas artificiais. Loeb tem defendido essa ideia publicamente desde 2017, gerando tanto apoio quanto ceticismo. No vídeo, ele menciona a missão do Projeto Galileo, que busca registrar e analisar fenômenos aéreos não identificados com instrumentos científicos de alta precisão.
Ele também cita o caso de um objeto que caiu no Oceano Pacífico em 2014 e que, segundo ele, pode ter origem interestelar. “É o primeiro objeto fora do Sistema Solar a colidir com a Terra”, diz. Loeb participou de uma missão para recuperar fragmentos desse objeto e afirma ter encontrado esférulas metálicas com composição incomum. A implicação? Essas partículas poderiam ter vindo de tecnologia alienígena.
Robin Hanson, embora cético quanto à probabilidade de visitas alienígenas discretas, reconhece que a ciência precisa ser empírica. “Se você tem um objeto com composição estranha, vale investigar.” Ele alerta, porém, para o risco de overfitting – ou seja, ajustar uma hipótese extraordinária a dados limitados, em vez de considerar explicações mais simples.
E se eles já estiverem entre nós?
Uma hipótese instigante levantada na entrevista é a de que alienígenas podem estar nos observando sem se revelarem, ou talvez tenham deixado sondas para nos monitorar. Loeb argumenta que uma civilização avançada poderia enviar pequenos dispositivos autônomos a várias regiões do universo, e que talvez tenhamos passado despercebidos por não saber o que procurar.
Hanson acrescenta uma perspectiva inusitada: e se os alienígenas estiverem simulando a realidade em que vivemos? Ele brinca com a ideia de que poderíamos estar em uma simulação conduzida por uma superinteligência alienígena. Embora essa teoria não seja levada a sério por todos os cientistas, ela reforça um ponto central da conversa: a necessidade de manter a mente aberta diante do desconhecido.
Ambos concordam que, se há algo por trás dos fenômenos aéreos não explicados, sua natureza provavelmente não será trivial. “Não estamos dizendo que são naves com tripulantes verdes, mas que há uma anomalia que merece investigação”, diz Loeb.
Conclusão: a importância de fazer as perguntas certas
A conversa entre Avi Loeb e Robin Hanson é um exemplo raro de diálogo interdisciplinar entre um físico e um economista sobre um dos temas mais misteriosos da atualidade: a possibilidade de vida inteligente além da Terra. Embora tenham visões distintas, ambos defendem a importância de se fazer as perguntas certas – mesmo quando elas desafiam o consenso.
Loeb representa a urgência de investigar fenômenos anômalos com ferramentas científicas, sem preconceito. Hanson oferece uma lente mais cética e matemática, lembrando que a ausência de evidências também deve nos fazer repensar nossas expectativas.
No fim das contas, o vídeo não oferece respostas definitivas – mas é justamente isso que o torna valioso. Ele nos convida a refletir não apenas sobre se estamos sendo visitados, mas como deveríamos encarar essa possibilidade. Afinal, a simples pergunta “por que eles estariam aqui?” pode abrir caminho para uma revolução científica.
Comentários