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OUMUAMUA É NAVE ESPACIAL? A MÍDIA SENSACIONALISTA


Não sei dizer se é devido a uma fé cega, ou puro entusiasmo, ou uma senda por sensacionalismo que gera clicks e dinheiro, ou ainda se é devido a uma proposital campanha de desinformação e ridicularização do tema OVNI, que vejo ocorrer - às claras - essa patética campanha da mídia dita especializada com relação ao objeto interestelar 1I/2017 U1, mais conhecido como Oumuamua. Tal campanha se apressa em classificá-lo como um objeto alienígena, uma espaçonave de exploração de uma civilização extrassolar, descartando a possibilidade mais provável e realista (a de que é simplesmente uma rocha com características desconhecidas). Não apenas isso, alguns, como a revista UFO, chegam a declarar que é CONFIRMADO que se trata de uma espaçonave.

O objeto foi descoberto e vem sendo estudado por Avi Loeb, astrônomo da universidade de Harvard, que em seu famoso artigo levantava a POSSIBILIDADE do objeto ser uma espécie de vela solar extraterrestre.

Um bom artigo a respeito de suas alegações pode ser lido aqui.

Avi Loeb - Foto por Olivia Falcigno (19 de novembro de 2018) para o Harvard Gazette

Loeb é um cientista muito respeitável, que trabalha em um centro de pesquisas de excelência. Respeitado pela comunidade científica, em nenhum momento você lerá que ele tenha falado qualquer coisa que contrarie essa posição ou sua capacidade e competência científicas, pois é do escopo científico formular HIPÓTESES e TEORIAS que sejam condizentes com dados e observações sobre algo. E foi exatamente o que ele fez.

Porém, a mídia especializada em OVNIs (e até a não tão especializada assim) correu para transmutar uma hipótese científica em uma CERTEZA, e passou a trabalhar a opinião de seu público nesse sentido. Mesmo que Loeb afirme com todas as palavras que o que ele afirmou é uma hipótese e defenda sua validade dentro do processo científico como uma "quase certeza", na prática ele sabe que ela não prova absolutamente nada. Tanto que ele defende a criação de telescópios e sondas mais potentes que permitam observar e coletar evidências a fim de comprovar sua hipótese. COMPROVAR!

A comunidade científica é repleta de teorias e hipóteses, algumas tão famosas que, mesmo sem provas cientificamente válidas, são tomadas também como "quase certezas" pela população em geral e até por parte da comunidade científica, gerando grandes cisões entre correntes acadêmicas. Como exemplo podemos citar a Teoria da Evolução, a Teoria da Matéria Escura e a Teoria do Criacionismo.

Mesmo que se tratem de teorias e todas tenham uma série de indicações que as apoiem, todas compartilham de uma ampla falta de evidências cientificamente válidas. Mas, mesmo assim, algumas são tratadas com seriedade e ensinadas nas escolas como certezas (o que é algo criminoso se você parar para pensar), enquanto que outras são tratadas como piada.


Tanto a comunidade científica quanto a mídia tem o dever de propor, estudar e noticiar tais hipóteses, mas com a seriedade e a imparcialidade exigida, ou seja, sem propagandeá-las como certezas - algo que, pelo menos ainda, não o são. Essa venda de hipóteses como verdades (semelhante a essa onde tenta-se vender a ideia absurda de que houve comprovação científica da reencarnação) é pura fake news, o que nos faz pensar no que Richard Dolan disse em sua entrevista ao Spacehub em 2018, sobre a mídia trabalhar para abafar o assunto, seja ridicularizando-o, seja jogando tantas mentiras e meias verdades ao público que este não se interesse mais pelo tema ou não consiga mais discernir o que é verdade e o que é mentira.

Tais notícias acabam por levar a surgimento de coisas como teorias de conspiração sobre missões secretas ao objeto, que é bastante interessante e divertido (e que se parece muito com uma releitura bastante oportuna do livro Encontro com Rama, de Arthur C. Clarke), mas carece de qualquer comprovação. Sir Francis Bacon, criador do método científico, se pudesse ver todas estas coisas, estaria balançando a cabeça negativamente.

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