O texto acompanha a publicação final da série, que totaliza cerca de 11.000 páginas em mais de 100 monografias. Loren, falecido em 2019, dedicou sua vida a montar uma cronologia minuciosa dos relatos ufológicos desde o final do século XIX até o início dos anos 1960, passando pelos momentos mais emblemáticos e obscuros da ufologia moderna. A série agora está amplamente disponível ao público e promete ser referência definitiva para qualquer pesquisa histórica sobre o fenômeno OVNI.
Quem foi Loren E. Gross?
Loren E. Gross não era apenas um pesquisador; era um verdadeiro arqueólogo da informação ufológica. Começou suas investigações nos anos 1960, buscando relatos de jornais antigos na Bancroft Library, em Berkeley. Logo adquiriu um acervo robusto, que incluía clippings de figuras notórias como Vincent H. Gaddis, autor forteano que escreveu sobre os “ghost rockets” suecos de 1946 — um fenômeno precursor da era moderna dos OVNIs.
Gross também analisou microfilmes completos do Projeto Blue Book da Força Aérea dos EUA, comparando-os com arquivos de organizações como a NICAP, CUFOS, e APRO, além de materiais dos notórios pesquisadores James McDonald, Donald E. Keyhoe, Robert Gribble, Barry Greenwood, entre muitos outros citados ao longo da obra. Sua abordagem, inspirada em naturalistas do século XIX, optava por descrever o que foi observado, sem oferecer explicações — uma escolha que hoje soa quase revolucionária no campo dominado por hipóteses e especulações.
A origem e evolução da pesquisa ufológica moderna
Loren identificou o ponto de partida de sua obra na onda dos dirigíveis de 1896 na Califórnia, passando por marcos como os "ghost rockets" da Suécia (1946), o início do Projeto Sign (1947) — primeiro esforço oficial dos EUA para investigar OVNIs — até os anos da Guerra Fria, quando o tema ganhou urgência geopolítica.
O que distingue a abordagem de Gross é sua cronologia diária dos eventos, incluindo reações da mídia, da sociedade, das autoridades militares e científicas. Enquanto a maioria das abordagens ufológicas busca interpretar os eventos com teorias extraterrestres ou tecnológicas, Gross mergulha nos relatos, permitindo ao leitor formar suas próprias conclusões. É um esforço de documentação que resgata a essência da investigação histórica: observar antes de explicar.
Essa metodologia também expôs o quanto os relatórios oficiais, como os do Projeto Blue Book, eram frequentemente superficiais ou até ridículos em suas explicações. Loren, com seu olhar clínico, identificava os relatos mais consistentes, criando uma verdadeira curadoria dos casos mais confiáveis e impactantes.
O Quinto Cavaleiro do Apocalipse
O subtítulo da série — “The Fifth Horseman of the Apocalypse” — vem de uma enigmática declaração feita nos anos 1950 por Dr. Lincoln La Paz, astrônomo e chefe do Instituto de Meteorítica da Universidade do Novo México, que também atuou como consultor da Força Aérea dos EUA em assuntos ufológicos. Ele teria se referido aos OVNIs como um “quinto cavaleiro do apocalipse”, uma alusão à ideia de revelação (do grego apokalyto), ou seja, algo que expõe o que está oculto.
A imagem evoca um fenômeno não apenas estranho, mas também transformador, talvez catastrófico em seu potencial disruptivo — tanto para a ciência quanto para as estruturas sociais e religiosas.
Essa metáfora de La Paz aponta para uma das ideias centrais da série: o fenômeno OVNI não é apenas um enigma aéreo, mas um agente de mudança histórica e civilizacional. E Gross reconhece esse papel ao construir uma narrativa que valoriza as rupturas que os avistamentos provocaram no imaginário coletivo.
O caso Betty e Barney Hill: a virada subjetiva
Entre os últimos marcos que Loren decidiu incluir em sua cronologia está o emblemático caso da abdução de Betty e Barney Hill, ocorrido em 1961. Esse foi o primeiro caso amplamente divulgado nos EUA envolvendo contato direto com ocupantes de OVNIs. O caso foi tão impactante que mudou a percepção pública sobre o fenômeno e introduziu a ideia de abdução alienígena como um novo paradigma dentro da ufologia.
Loren não adentra as interpretações psicológicas ou ufológicas do caso, mas reconhece sua importância histórica: o relato dos Hills foi um divisor de águas, pois trouxe à tona a questão da subjetividade, da memória e da cultura na construção do fenômeno. Isso abriu portas para debates envolvendo memórias falsas, influência da mídia, e o papel dos sonhos no fenômeno abduzido.
Esse evento marca a transição do estudo de objetos para o estudo de experiências — um salto epistemológico que ainda hoje provoca controvérsias entre céticos, cientistas e crentes.
Cultura, fraudes e crenças em torno dos OVNIs
Loren também se preocupou em documentar o lado menos nobre do fenômeno: as farsas, brincadeiras e o sensacionalismo que frequentemente acompanharam os picos de avistamentos. Em várias épocas, as histórias de OVNIs se misturaram ao entretenimento, à religião e à pseudociência, criando um ambiente onde era difícil separar fatos de delírios.
Apesar disso, o autor não desdenha desse aspecto. Pelo contrário, sua narrativa mostra como esses elementos fazem parte da construção social do fenômeno. A forma como a sociedade reage ao incompreensível — seja com temor apocalíptico, seja com memes e teorias bizarras — também diz muito sobre nossas estruturas psicológicas e culturais.
Mesmo assim, Loren se mantém fiel à documentação rigorosa. Em um campo repleto de exageros e charlatanismo, sua obra brilha como um exemplo de sobriedade e método, algo raro na ufologia.
Uma base de dados definitiva para o futuro
Durante o período de escrita da série, mais de 150 mil páginas de documentos oficiais sobre OVNIs foram liberadas por governos, especialmente o dos Estados Unidos. Organizações como o Projeto 1947, sob direção de Jan Aldrich, contribuíram com material suplementar, que Loren incorporou às suas atualizações. Isso mostra como sua obra não ficou presa a uma época, mas evoluiu conforme a maré de desclassificações crescia.
O resultado final é uma série que integra o melhor dos registros civis, militares e acadêmicos, servindo não apenas como repositório, mas também como modelo de pesquisa. Um farol para quem deseja entender a história do fenômeno OVNI com profundidade e seriedade.
Concluindo...
"UFOs: A History / The Fifth Horseman of the Apocalypse" não é apenas um livro ou biblioteca de documentos, mas sim um legado. Loren E. Gross conseguiu reunir, sistematizar e preservar um dos conjuntos mais completos já produzidos sobre o fenômeno OVNI, indo muito além da mera curiosidade popular. Ele criou uma obra que é fundamental para o entendimento do fenômeno como parte da história humana — não como anedota, mas como dado histórico.
Através de sua abordagem metodológica, Loren oferece um exemplo de como estudar o inexplicável com seriedade e rigor. E ao fazê-lo, revela que o mistério dos OVNIs é menos sobre discos voadores e mais sobre como os seres humanos respondem ao desconhecido.
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