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OS ARQUIVOS SECRETOS SOVIÉTICOS SOBRE OVNIS FINALMENTE REVELADOS


O artigo “History of UFO State Research in the USSR”, assinado por Yulii Platov e Boris Sokolov e publicado em 2000 no Boletim da Academia Russa de Ciências, apresenta um panorama raro, detalhado e fidedigno da maneira como a União Soviética tratou oficialmente o fenômeno dos OVNIs (ou “fenômenos paranormais atmosféricos e espaciais”). Trata-se de uma das fontes mais valiosas para se compreender a abordagem científica, política e militar ao tema em uma das maiores potências da Guerra Fria, longe do sensacionalismo comum à ufologia popular.

Com rigor acadêmico e base documental, o texto joga luz sobre 13 anos de investigações estatais secretas, revelando os bastidores de programas coordenados tanto por militares quanto por cientistas civis, e evidencia as dificuldades, os objetivos e os limites das pesquisas conduzidas sob a cortina de ferro.


Os autores do artigo

Yulii Platov foi um renomado físico e pesquisador líder do Instituto de Magnetismo Terrestre, Ionosfera e Propagação de Ondas de Rádio da Academia de Ciências da URSS (IZMIRAN). Participou ativamente das investigações científicas sobre fenômenos anômalos e chefiou o grupo civil que conduziu os estudos oficiais sobre OVNIs.

Boris Sokolov, por sua vez, era coronel do Exército Soviético e coordenador da vertente militar da pesquisa entre 1978 e 1990. Sua atuação foi decisiva na estruturação da resposta institucional a eventos que, embora raramente envolvessem algo extraordinário, eram tomados com total seriedade.

Ambos representam a interface entre o rigor científico e os interesses estratégicos militares, num esforço estatal para compreender e, se necessário, responder ao desconhecido.


O fenômeno Petrozavodsk e o início da mobilização oficial

O estopim para a mobilização oficial soviética em torno dos fenômenos aéreos inexplicados foi o incidente de Petrozavodsk, ocorrido em 20 de setembro de 1977. Naquela madrugada, centenas de testemunhas — civis e militares — observaram uma gigantesca formação luminosa no céu, descrita como uma espécie de “água-viva cósmica”, emitindo feixes finos de luz, em pleno noroeste da URSS.


O caso teve repercussão internacional, inclusive em países vizinhos como a Finlândia. A pressão pública e diplomática levou o presidente da Academia de Ciências a enviar uma carta ao governo soviético solicitando a criação de uma comissão de alto nível para investigar tais fenômenos.

O resultado foi a criação, no ano seguinte, de dois programas paralelos e secretos: um sob a coordenação do Ministério da Defesa (“Setka MO”) e outro sob a Academia de Ciências (“Setka AN”).


Dois centros de pesquisa secretos e seus objetivos distintos

A estrutura de investigação foi dividida entre duas linhas:

  • Militar: focava nos impactos de possíveis fenômenos anômalos sobre o funcionamento de equipamentos e a segurança de pessoal. Buscava identificar riscos técnicos e ameaças potenciais. Era liderada por V. Balashov, especialista em radiação e armamentos.
  • Acadêmica: dedicava-se a analisar a natureza física dos fenômenos. Estudava causas naturais ou antrópicas (como testes militares), sob liderança de Yulii Platov, com apoio de institutos científicos e comitês meteorológicos.


Ambos os programas funcionaram com baixo orçamento, mas mobilizaram centenas de observadores militares e civis, especialmente após uma diretriz do Estado-Maior que ordenava a todos os soldados relatarem qualquer fenômeno aéreo não identificado.


O método soviético: pragmatismo e verificação

Durante os 13 anos de operação (1978–1990), mais de 3.000 relatos foram coletados e analisados, dos quais cerca de 400 foram classificados como eventos incomuns.

O método soviético evitava conclusões apressadas. Foram aplicados critérios rigorosos para tentar explicar os fenômenos observados com base em:

  • lançamentos de foguetes e satélites (que deixavam rastros visuais espetaculares);
  • balões meteorológicos ou científicos de alta altitude;
  • testes militares com bombas de iluminação;
  • efeitos atmosféricos raros.


Em muitos casos, foi possível relacionar relatos impressionantes a eventos técnicos, como o lançamento do satélite Kosmos 955, que provocou o efeito luminoso de Petrozavodsk. Outro exemplo foi um exercício militar em Belarus em 1983, cujas bombas de iluminação vistas a 400 km de distância causaram alarme em uma base de mísseis da Ucrânia — coincidindo com uma falha técnica que, embora não relacionada, levou a um alerta máximo.


Casos anômalos e limites das explicações

Apesar da forte taxa de explicação racional dos casos, alguns episódios permaneceram sem explicação clara, como os incidentes de 1984 a 1987 em Borisoglebsk, onde objetos foram detectados por radar e observados por pilotos durante emergências de voo. Não se concluiu que esses objetos tenham causado os problemas, mas sua presença foi registrada.


Ainda assim, nenhum dos relatos coletados incluía:

  • pousos de naves;
  • contato com seres;
  • abduções;
  • ou qualquer evidência direta de tecnologia não humana.

Para os autores, isso indica que ou a URSS foi ignorada por civilizações extraterrestres durante esses 13 anos, ou a hipótese extraterrestre é, no mínimo, frágil diante da realidade investigativa.


Ceticismo responsável e conclusão surpreendente

O tom do artigo é de ceticismo fundamentado. Platov e Sokolov defendem que, embora a esmagadora maioria dos fenômenos tenha explicação natural ou humana, a seriedade na abordagem do tema é crucial.

Eles ironizam os boatos sobre arquivos secretos do KGB e naves capturadas, dizendo que essas histórias beiram o absurdo. Citam, inclusive, um trecho do jornalista científico R. Cowen:

UFOs merecem uma análise séria — tão séria quanto os segredos reais por trás de lançamentos espaciais classificados.

No fim, os autores destacam que o maior mérito da pesquisa não foi provar ou negar alienígenas, mas sim tratar o fenômeno com seriedade e rigor metodológico, o que falta tanto nos entusiastas quanto nos negacionistas.


Concluindo...

Este artigo é um verdadeiro tesouro documental para qualquer interessado em ufologia, história da ciência ou política da Guerra Fria. Ao descrever o maior esforço institucional já feito fora dos EUA para estudar os OVNIs, ele mostra que, mesmo no coração de uma potência militar e científica, o fenômeno foi tratado com a frieza que faltou (e ainda falta) em muitos outros países.

Se os soviéticos, com todo seu aparato de vigilância, não encontraram qualquer evidência de visitas alienígenas em mais de uma década de observação direta, isso não invalida o fenômeno, mas redefine a forma como devemos estudá-lo: com método, dados, e não fantasia.


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