OVNIS NO MUNDO ÁRABE

O fenômeno dos Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) é global. Desde registros antigos até avistamentos modernos, quase todas as culturas do planeta têm alguma narrativa envolvendo luzes misteriosas, entidades celestiais ou visitantes vindos do céu. Contudo, o que se fala sobre os OVNIs no mundo árabe? Existe ufologia por lá? Como populações culturalmente influenciadas pelo Islã e por séculos de tradição espiritual interpretam tais fenômenos? E, mais importante: que casos notórios vieram daquela região que tanto fascina e intriga o imaginário global?

Neste artigo, mergulharemos em um tema pouco explorado: a ufologia no Oriente Médio e no mundo árabe, suas influências religiosas e culturais, os registros históricos e militares mais relevantes e as razões pelas quais o fenômeno permanece envolto em silêncio — não por falta de eventos, mas aparentemente por uma complexa rede de interpretações e tabus.

Religião e cosmovisão: como o Islã molda a interpretação dos OVNIs

Para entender como os OVNIs são percebidos em países árabes, é essencial considerar o papel do Islã e da cultura islâmica tradicional.

O papel dos jinns

No Alcorão, os jinns (ou gênios) são seres invisíveis feitos de "fogo sem fumaça", criados por Deus antes mesmo da humanidade. Possuem livre-arbítrio, vivem entre nós, podem assumir formas físicas e interferir na vida humana — inclusive causando doenças, assombrações e aparições.

Para muitos muçulmanos, especialmente em áreas mais tradicionais ou rurais, luzes misteriosas ou entidades celestiais são muitas vezes interpretadas não como alienígenas, mas como jinns ou manifestações espirituais.

Jinns são reais, estão entre nós, e têm tecnologias ou capacidades além da nossa. O que o Ocidente chama de alienígenas, nós conhecemos há séculos.

— Sheik Abdel Hakim Murad, teólogo britânico muçulmano

Anjos, sinais e o fim dos tempos

Outra camada importante são as crenças escatológicas. Muitas aparições nos céus são vistas como sinais divinos — alertas de Deus ou dos anjos para eventos vindouros, como a chegada do Mahdi (messias islâmico) ou o Dia do Juízo. Esse fator espiritual faz com que o debate sobre OVNIs nem sempre seja visto como científico, mas sim como sagrado ou profético.

Silêncio e censura: por que não ouvimos falar sobre isso?

Mesmo com avistamentos e relatos documentados, o tema raramente aparece na mídia árabe tradicional. Os motivos incluem:

• Censura governamental: Muitos regimes árabes possuem controle sobre o que circula na mídia, especialmente em temas considerados supersticiosos ou potencialmente desestabilizadores.
• Autocensura religiosa: Falar sobre alienígenas pode ser visto como heresia ou desvio teológico.
• Prioridades sociais: Em regiões afetadas por guerra, pobreza ou instabilidade, há pouco espaço para especulações ufológicas.

Casos emblemáticos no oriente médio

Caso Teerã (1976): Um dos mais importantes da história da ufologia

Um dos eventos ufológicos mais bem documentados do mundo ocorreu no Irã pré-revolução islâmica.

• Data: 19 de setembro de 1976
• Local: Teerã, Irã
• Evento: Moradores relataram uma luz brilhante no céu. Dois jatos F-4 Phantom da Força Aérea Imperial do Irã foram enviados.
• Interferência tecnológica: Quando os caças se aproximaram, seus instrumentos de navegação e armas falharam misteriosamente.
• Comportamento do objeto: O OVNI acelerava a velocidades extremas, parava no ar, e chegou a lançar "um objeto menor" em direção aos caças, que depois retornou ao objeto principal.
• Testemunhas: Pilotos, operadores de radar, e oficiais militares iranianos e norte-americanos.
• Fonte: Documentos desclassificados da CIA, NSA e DIA confirmam o incidente.

Nunca vi nada assim. A luz era intensa demais, e os sistemas falharam assim que chegamos perto.

— Relato do piloto Parviz Jafari

Esse caso é frequentemente citado como evidência de inteligência não humana interagindo com tecnologia militar avançada.

Egito e suas lendas

Embora o Egito não tenha um "caso moderno" tão contundente, sua relação com os céus vem da antiguidade.

• As pirâmides de Gizé são frequentemente associadas a teorias de "antigos astronautas".
• Há relatos esporádicos de avistamentos em áreas rurais e no deserto do Saara.
• Teóricos sugerem que as câmaras ocultas em pirâmides serviriam como “portais interdimensionais” ou pontos de contato alienígena.

Arábia Saudita: Luzes sobre o deserto

• Beduínos e militares relatam aparições de luzes misteriosas movendo-se em alta velocidade sobre o deserto.
• Em 2001, luzes foram vistas sobre Riyadh, fotografadas por civis. O governo não comentou.
• Muitos associam tais eventos a jinns ou anjos, evitando ligar aos ETs.

Síria e Líbano: avistamentos em zonas de conflito

• Durante a guerra civil síria, surgiram vídeos de objetos brilhantes no céu, desacreditados por alguns como mísseis ou drones.
• Em zonas montanhosas do Líbano, pastores relataram "círculos queimados" no solo e visitas de "homens de pele azulada" — casos raros, mas registrados por estudiosos locais.

Marrocos – caso de Agadir (1974)

• Relato: Em fevereiro de 1974, moradores da região de Agadir, no sul do Marrocos, relataram uma enorme bola de luz no céu por vários minutos. O objeto parecia emitir pulsos luminosos e não fazia ruído.
• Testemunhas: Comunidades inteiras viram o fenômeno; alguns pastores relataram que os animais ficaram agitados e fugiram das áreas abertas.
• Interpretação local: Considerado um “sinal divino” por muitos. Religiosos atribuíram à presença de jinns ou a uma possível provação espiritual.
• Consequência: O evento chegou a ser citado em rádios locais, mas não foi amplamente investigado.

Jordânia – Relatos na região de Petra (década de 1990)

• Relato: Turistas e moradores relataram luzes se movendo silenciosamente sobre a região de Petra, especialmente durante noites sem lua. Algumas testemunhas disseram que as luzes “pareciam sondar” as formações rochosas.
• Possível ligação: Teóricos ligam esse tipo de relato à antiga ideia de que Petra era um local de energia espiritual ou contato, semelhante a outras “zonas místicas”.
• Interpretação local: Misto entre curiosidade e temor, mas muitas vezes associadas a atividades espirituais, não a alienígenas.

Argélia – avistamentos na região de Tamanrasset (sul do Saara)

• Relato: Nômades tuaregues relataram luzes azuis que desciam sobre o deserto e permaneciam flutuando. Algumas testemunhas alegaram que os objetos deixaram marcas no chão semelhantes a queimaduras circulares.
• Ano: Avistamentos recorrentes desde os anos 1980 até os anos 2000.
• Características: Os objetos costumavam aparecer em áreas remotas, muito afastadas de qualquer estrutura militar ou urbana.
• Conclusão: Por falta de acesso a meios de comunicação e isolamento geográfico, poucos desses relatos ganharam repercussão, mas ainda são mantidos como parte da narrativa oral.

Emirados Árabes Unidos – caso de Al Ain (2004)

• Relato: Relatos de um objeto metálico no céu de Al Ain (próximo à fronteira com Omã), observado por dezenas de civis. O objeto teria realizado manobras impossíveis e desaparecido em alta velocidade.
• Cobertura: Foi brevemente noticiado em jornais locais, mas depois desapareceu das manchetes.
• Possibilidade militar: Alguns sugerem que poderia ser teste de aeronave dos EUA na região. A proximidade com bases militares estrangeiras levanta suspeitas de segredo militar.

O fenômeno nas redes sociais árabes

Nos últimos anos, com o crescimento da internet e da liberdade de expressão online, canais no YouTube e grupos no Facebook passaram a discutir OVNIs em árabe. Especialmente no Marrocos, Egito, Emirados Árabes Unidos e Jordânia, surgiram páginas que mesclam vídeos ocidentais com teorias islâmicas e debates filosófico-teológicos.

Concluindo...

O fenômeno OVNI no mundo árabe é uma realidade pouco explorada, mas rica em complexidade. A ausência de documentação oficial e de cobertura midiática não reflete uma ausência de eventos, e sim a força de elementos culturais, religiosos e políticos que moldam o modo como essas experiências são interpretadas.

Enquanto o Ocidente debate tecnologia alienígena, naves interestelares e vida em outros planetas, muitos no mundo árabe continuam a ver esses fenômenos como espirituais, sobrenaturais ou religiosos — uma abordagem que, embora distinta, revela o quão vasto e multifacetado é o contato humano com o desconhecido.