Em uma noite quente de novembro de 1957, na pacata Praia Grande, litoral de São Paulo, o Forte de Itaipu, uma fortificação militar com vista para o mar, tornou-se palco de um dos episódios mais intrigantes da ufologia brasileira. Dois soldados escalados como sentinelas, cumprindo seu dever sob o céu estrelado, foram surpreendidos por algo que desafiava a lógica: um disco luminoso, pairando silenciosamente, emitindo calor intenso e um zumbido grave. O que aconteceu naquela madrugada não apenas abalou os jovens soldados, mas também ecoou pelos corredores do Exército, da Força Aérea Brasileira (FAB) e até do governo americano, deixando um legado de mistério que perdura até hoje. Este é o Caso Forte de Itaipu, uma história de luzes inexplicáveis, queimaduras reais e segredos guardados a sete chaves.
Ele veio durante a noite
Era por volta das 2h do dia 4 de novembro de 1957. O Forte de Itaipu, construído para proteger a costa brasileira, estava envolto na tranquilidade típica de uma noite sem incidentes. Dois soldados, de 24 e 26 anos, patrulhavam a área externa com seus olhos atentos ao horizonte escuro. De repente, o céu se iluminou. Um objeto brilhante, em forma de disco, desceu rapidamente, como se desafiasse as leis da física. Com cerca de 30 metros de diâmetro, o OVNI pairou a 50 metros de altura, a apenas 300 metros dos soldados. Sua luz alaranjada pulsava, e um zumbido baixo, semelhante ao de um gerador, cortava o silêncio.
Os soldados, paralisados, sentiram uma onda de calor insuportável, como se estivessem diante de uma fogueira invisível. Suas peles arderam, e queimaduras de primeiro grau marcaram seus rostos, pescoços e braços. O objeto permaneceu ali, imóvel, por cerca de dois minutos, como se os observasse. Então, sem aviso, disparou verticalmente, desaparecendo no céu em segundos. No forte, luzes piscaram e equipamentos elétricos falharam, mergulhando o local em uma breve escuridão. As sentinelas, em choque, colapsaram, vítimas de um medo visceral e de sintomas de desorientação. Levados ao hospital militar, eles carregavam não apenas marcas físicas, mas o peso de terem testemunhado algo além da compreensão.
Como o caso se tornou público
O incidente não passou despercebido. O comando do Forte de Itaipu notificou imediatamente a FAB e o Exército, desencadeando uma investigação sigilosa. Os soldados foram interrogados, e os médicos confirmaram as queimaduras de primeiro grau, descritas como consistentes com exposição a uma fonte de calor intensa. A pane elétrica, que afetou luzes e equipamentos do forte, foi registrada, mas sua causa permaneceu incerta. Outros militares relataram luzes estranhas no céu naquela noite, embora apenas os dois soldados tenham experimentado a proximidade do objeto.
Os detalhes do caso, registrados em relatórios oficiais, estão entre os 743 documentos sobre OVNIs disponíveis no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN), acessíveis via Lei de Acesso à Informação. Esses arquivos confirmam o avistamento, os efeitos físicos e a investigação inicial, mas não oferecem uma conclusão definitiva. O Exército instruiu os soldados, cujos nomes nunca foram revelados, a manterem silêncio, e o caso foi abafado, emergindo apenas anos depois graças ao trabalho de ufólogos como Olavo Fontes, da Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores.
Envolvimento internacional
O Caso Forte de Itaipu não ficou restrito ao Brasil. Na década de 1950, os Estados Unidos, imersos na Guerra Fria e no Projeto Blue Book, monitoravam avistamentos de OVNIs em busca de possíveis tecnologias soviéticas ou extraterrestres. Segundo o ufólogo Ademar Gevaerd, editor da Revista UFO, o incidente foi comunicado ao governo americano, possivelmente via adido militar no Brasil. Representantes dos EUA teriam entrevistado os soldados e analisado os relatórios, embora nenhum documento público confirme a extensão desse envolvimento.
A cooperação militar entre Brasil e EUA, comum na época, facilitou o compartilhamento de informações. O caso ganhou destaque em publicações internacionais, como a APRO Bulletin, reforçando sua relevância na ufologia global. A possibilidade de um OVNI causar efeitos físicos e interferir em sistemas elétricos levantou preocupações sobre segurança nacional, tanto no Brasil quanto nos EUA.
O que afinal era aquele objeto?
O Caso Forte de Itaipu permanece sem explicação definitiva, mas várias hipóteses foram levantadas:
- Origem extraterrestre: Para ufólogos, o OVNI era uma nave de origem não humana. A capacidade de pairar silenciosamente, emitir calor intenso e causar interferência elétrica não correspondia a nenhuma tecnologia conhecida em 1957. As queimaduras e a pane elétrica são vistas como evidências de uma interação física com uma inteligência avançada.
- Fenômeno natural: Alguns céticos sugerem que o objeto poderia ser um raio globular ou plasma atmosférico, capazes de gerar luz, calor e interferência elétrica. No entanto, esses fenômenos raramente têm a forma de disco ou a duração relatada, tornando a explicação improvável.
- Tecnologia militar secreta: Outra teoria aponta para um teste de uma aeronave experimental, possivelmente americana ou soviética. A Guerra Fria incentivava o desenvolvimento de tecnologias avançadas, mas não há registros de discos voadores operacionais na época.
- Confusão ou fraude: A possibilidade de uma fraude é descartada, dado o contexto militar, os efeitos físicos documentados e a investigação oficial. Confusão com um meteoro ou balão também é improvável, pois esses objetos não pairam ou emitem calor direcionado.
Legado de mistério
O Caso Forte de Itaipu é um marco na ufologia brasileira por vários motivos. Primeiro, a credibilidade das testemunhas militares e a documentação oficial conferem peso ao incidente, distinguindo-o de relatos civis. Segundo, os efeitos físicos – queimaduras, colapso nervoso e pane elétrica – sugerem um evento real, não apenas uma ilusão. Terceiro, o envolvimento internacional, com possível interesse americano, reforça a percepção de que o caso tinha implicações além das fronteiras brasileiras.
O incidente abriu precedente para investigações militares de OVNIs no Brasil, influenciando casos como a Operação Prato (1977) e a Noite Oficial dos OVNIs (1986). Até hoje, os documentos do Arquivo Nacional mantêm viva a discussão, embora a falta de imagens ou vídeos, comum em avistamentos da década de 1950, seja uma limitação.
Relevante até os dias atuais
Mais de seis décadas depois, o Caso Forte de Itaipu continua a intrigar. Ele nos confronta com perguntas fundamentais: o que era aquele objeto que queimou soldados e desafiou a tecnologia da época? Por que o Exército optou pelo silêncio? E o que os arquivos ainda escondem? A ausência de respostas definitivas alimenta tanto o ceticismo quanto a imaginação. Para alguns, é prova de uma presença extraterrestre; para outros, um mistério que a ciência ainda não decifrou.
Seja qual for a verdade, o Forte de Itaipu permanece como um símbolo do desconhecido, um lembrete de que, mesmo em um mundo de radares e satélites, o céu ainda guarda segredos. Para os curiosos, os documentos do Arquivo Nacional estão lá, esperando para serem explorados. E quem sabe? Talvez, em algum canto esquecido do SIAN, uma peça do quebra-cabeça esteja à espera de ser encontrada.
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