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A Inteligência Artificial é hoje um dos principais pilares das inovações tecnológicas. Ela nasceu da curiosidade humana em criar máquinas que pudessem pensar e tomar decisões como seres humanos.
Nos anos 1950, o matemático britânico Alan Turin deu os primeiros passos nessa direção, questionando se as máquinas poderiam pensar.
Em 1956, durante a conferência de Dartmouth, o termo "Inteligência Artificial" foi cunhado e a pesquisa na área começou oficialmente. Desde então, cientistas como John McCarthy, considerado um dos pais da Inteligência Artificial, e Herbert Simon, premiado por suas contribuições à área, deram os primeiros passos criando sistemas que tentavam resolver problemas lógicos, como xadrez, além de simular alguns comportamentos humanos mais básicos, como a tomada de decisões dentro de certas limitações.
Os primeiros algoritmos de Inteligência Artificial eram baseados em lógica simbólica. Isso significa que eles seguiam uma série de regras fixas para tomar decisões, algo que foi revolucionário na época em que foram feitos, mas se comparado à Inteligência Artificial moderna, é bastante limitado. As máquinas não o aprendiam, apenas seguiam instruções dadas por programadores.
O avanço mais significativo ocorreu com a introdução do aprendizado de máquina nas décadas seguintes. Com ela, a Inteligência Artificial consegue aprender novas regras, novos comportamentos e informações, inclusive de maneira autônoma, sem uma orientação humana guiando o processo todo, mas apenas definindo seu escopo inicial e a massa de dados para o processo de treinamento.Com o aprendizado de máquina, regras estruturadas não precisam mais serem de fato programadas, já que a Inteligência Artificial se tornou capaz de descobri-las por si mesma. A máquina aprendeu a aprender.
Um dos grandes marcos que veio com isso foi a criação das redes neurais artificiais, que tentam imitar o funcionamento do cérebro humano, permitindo que as máquinas aprendam com os dados aos quais são expostas. Isso representou uma enorme quebra de paradigma no universo da tecnologia e da própria ciência. As portas para uma nova era foram abertas, onde as possibilidades e os resultados nas mais diversas áreas agora tenderão a crescer e se acelerar de maneira exponencial, livres das limitações da mente humana.
Será?
Calma. Antes de pensarmos melhor sobre isso, vamos nos voltar mais um pouco para o passado, e tentar entender porque Inteligência Artificial foi criada, e o que moveu a mente humana em busca de sua criação.
Desde a Grécia antiga, com Platão e Aristóteles, o ser humano se pergunta o que faz a mente humana funcionar. Estudos sobre o que é o raciocínio e como ele funciona são questões antigas, ligadas à compreensão de quem nós somos, e a criação da Inteligência Artificial é parte do esforço para responder isso.
Mas outras questões de cunho filosófico, como a busca pelo domínio humano sobre a natureza, a busca pelo ideal do progresso pela otimização e automação, a superação dos limites humanos e até mesmo o sonho de criar vida também podem estar na raiz da resposta a esta pergunta. Porém, o fator da ganância não pode ser deixado de lado. A competição econômica pode não ter tido um papel tão grande na gênese da Inteligência Artificial, mas com certeza tem um papel enorme no seu desenvolvimento e avanço.
A Inteligência Artificial foi inicialmente desenvolvida para resolver problemas complexos, ligados à análise e processamento de quantidades absurdamente ridículas de dados, que sem ela, simplesmente não poderiam ser tratados. A quantidade de problemas desta natureza em uma sociedade cada vez mais complexa como a nossa só cresce. Assim, a pressão por resolver problemas cada vez mais complexos com cada vez mais eficiência e velocidade é a nova corrida do ouro, e essa corrida está sendo disputada por empresas e governos. Aquele que desenvolver a Inteligência Artificial mais avançada neste sentido, será o grande ganhador e levará tudo.
No mundo dos negócios, dizem que o sucesso está ligado, dentre outras coisas, a encontrar um problema para o qual ainda não exista uma solução, e então criá-la. Ou então, criar uma solução mais eficiente. Neste sentido, a Inteligência Artificial tem um potencial enorme de aplicações. Ela pode ser usada para prever o clima, analisar grandes volumes de dados médicos e inferir diagnósticos com uma precisão muito maior do que qualquer médico humano, automatizar tarefas repetitivas em fábricas, prever surtos de doenças, prever crises financeiras, otimizar investimentos, guiar veículos, otimizar cadeias de logística e mais uma infinidade de coisas, potencialmente liberando seres humanos para se concentrarem em atividades criativas e intelectuais.
No entanto, nos últimos anos, a Inteligência Artificial passou a ser usada até mesmo nestas tarefas que são, digamos, mais nobres.
Ela já faz, com bastante eficiência, recomendações de filmes e criação de todo tipo de conteúdo artístico, como ilustrações, literatura, música, dublagem e vídeo, gerando fortes debates sobre sua regulação para a proteção econômica da atividade humana. Porém, este avanço não parece que poderá ser freado, tendo-se em mente este modelo econômico baseado na otimização e diminuição de custos como vantagem competitiva.
A Inteligência Artificial tem atuado, com agressividade, até mesmo na programação e infraestrutura de tecnologia, nichos que acreditavam estar protegidos dela. Esta atuação ainda ocorre dentro de um escopo de auxiliar os profissionais de tecnologia, mas isso tende a mudar para uma verdadeira substituição. Na criação de aplicações e soluções de melhor qualidade, ela é usada para automatizar diversas coisas, como documentação, testes e qualidade, guiando os desenvolvedores na aderência a padrões e boas práticas de mercado. Já na infraestrutura de redes e servidores, ela contribui na gestão, segurança e monitoramento, mantendo ambientes no ar ao identificar e corrigir falhas, além de otimizá-la e planejar sua expansão adequada. Assim, a Inteligência Artificial se torna cada vez mais presente, causando preocupações até nestes profissionais, que de certa forma, trabalharam para a criação desta tecnologia que agora ameaça substituí-los. Este medo é cada vez maior, uma vez que a cada dia que passa, fica mais claro que o surgimento de uma Inteligência Artificial capaz de se auto-programar, e de criar outras inteligências artificiais mais avançadas do que ela mesma, é questão de tempo.
Mas enquanto isso não ocorre, se é que vai mesmo ocorrer algum dia, vivemos uma popularidade enorme da Inteligência Artificial, com o surgimento constante de novas ferramentas e aplicações. Nos últimos anos, vimos um salto gigantesco neste desenvolvimento com empresas como Google, OpenAI, Deep Mind e Microsoft, liderando grandes avanços, especialmente na criação de redes neurais profundas, conhecidas como Deep Learning. Essas tecnologias estão por trás dos famosos GPT, como o chat GPT, e dos assistentes virtuais, como a Siri, da Apple, e a Alexa, da Amazon. Esses modelos de Inteligência Artificial, conhecidos como modelos de linguagem de grande escala, ou LLMs, são capazes de entender e gerar linguagem natural, tornando a interação homem-maáquina absurdamente mais fluida, contribuindo para que as Inteligências Artificiais estejam em todo lugar, e mais acessíveis do que nunca.
Se antes o uso da tecnologia da Inteligência Artificial era algo que demandava um altíssimo grau de conhecimento técnico, assim como o investimento considerável, hoje temos, de maneira muitas vezes gratuitas ou então com baixos custos, ferramentas de Inteligência Artificial como o DALL-E, o Midjourney, o Bing, o chat GPT e tantos outros que permitem que qualquer pessoa, sem qualquer conhecimento prévio em Inteligência Artificial, usufrua dela e possa, por exemplo, criar arte digital apenas descrevendo o que deseja.
Este vídeo é um bom exemplo disso. Diversas imagens aqui mostradas, assim como a minha voz, e até mesmo a música de fundo, foram todos feitos usando diferentes ferramentas de Inteligência Artificial, comandadas e orquestradas, obviamente, pela pessoa que produz os conteúdos deste canal.
Mas, além das questões econômicas, considerando que a Inteligência Artificial tem um grande potencial para gerar ondas de desemprego, há outros problemas éticos e sociais a serem pensados. O desemprego gerado pela Inteligência Artificial pode ser apenas um fantasma, já que revoluções tecnológicas do passado sempre acabaram gerando novas oportunidades e novos tipos de profissão, que antes seriam impossíveis. Estamos falando sobre potenciais usos ilícitos da Inteligência Artificial.
De forma lícita, a Inteligência Artificial tem se provado uma aliada indispensável. Grandes empresas usam a Inteligência Artificial para otimizar negócios, prever tendências de mercado e melhorar seus serviços de muitas maneiras, trazendo valor direta ou indiretamente a toda a sociedade. A sociedade, por sua vez, tem olhado para a Inteligência Artificial de forma cada vez mais intensa, pensando em meios de aplicá-la cada vez mais nos governos. Ela traz consigo um enorme potencial no sentido de diminuir custos dos governos em todas as esferas, ao mesmo tempo que aumenta a qualidade e a eficiência dos serviços públicos, promovendo transparência, eliminando fraudes e acabando com a corrupção. Tudo ao mesmo tempo em que, potencialmente, abre oportunidades para a diminuição da carga tributária e diminui a burocracia, melhorando a competitividade e gerando mais riquezas e bem-estar a todos.
No entanto, onde há luz, há sombras.
E como falei há pouco, há preocupações bastante realistas quanto ao uso ilícito da Inteligência Artificial. Ela tem sido usada de forma ilícita especialmente na desinformação e manipulação. Por exemplo, já há alguns anos, vemos que ela tem sido usada na criação do chamado Deep Fake, que são vídeos falsos que parecem incrivelmente reais, manipulando a imagem e a voz de pessoas, visando fazer com que a opinião pública acredite que uma determinada pessoa fez ou falou algo que ela nunca de fato fez ou falou, com um grau de realismo que uma pessoa comum não consegue distinguir da realidade.
Isso tem gerado preocupações sérias, especialmente em épocas de eleições e crises políticas. Durante as eleições Americanas de 2016 em diante, por exemplo, há indícios de que a Inteligência Artificial foi usada como ferramenta por algumas empresas e pessoas, em todos os lados do espectro político, para a criação e direcionamento de notícias falsas. Isso foi feito para aumentar a polarização, e potencialmente influenciar os resultados, manipulando a opinião pública inclusive com o auxílio de bots, que são pequenos sistemas de Inteligência Artificial que se passam por pessoas reais, espalhados pelas diversas redes sociais existentes, interagindo com pessoas reais.
Isso indica que a Inteligência Artificial já foi transformada em diversas armas na guerra de narrativas e manipulação política que vivemos no mundo. Armas contra as quais a sociedade ainda tem poucas defesas, e dificilmente uma mera regulação estatal vai resolver.
Além disso, a Inteligência Artificial pode ser usada para manipular dados e criar perfis detalhados de usuários, permitindo a personalização de anúncios e a manipulação de opiniões de forma invisível. Empresas e governos podem utilizar essas informações para controlar a narrativa pública e monitorar populações.
Dizem que nunca foi tão fácil para um ditador se colocar e se perpetuar no poder, pois o poder que a Inteligência Artificial pode exercer em uma população é simplesmente distópico. Esses cenários alimentam muitas teorias da conspiração sobre a Inteligência Artificial. Algumas sugerem que grandes corporações e governos já estão usando Inteligência Artificial para monitorar e controlar a população global, suprimindo informações e direcionando opiniões. Basta olhar para o que a China já está fazendo há anos e como funciona sua política de crédito social, e de como a Inteligência Artificial é usada neste gigantesco sistema, que é na prática o Grande Irmão, descrito no famoso livro 1984, de George Orwell.
Há ainda outros aspectos preocupantes, como nos casos de vínculos emocionais que algumas pessoas podem estabelecer com uma Inteligência Artificial. A isso, é dado o nome de "Efeito Eliza". O Efeito Eliza descreve a tendência de pessoas tratarem computadores, especialmente programas de Inteligência Artificial, como se eles fossem conscientes e tivessem emoções. Recebeu esse nome em homenagem ao chatbot Eliza, criado na década de 1960 por Joseph Weizenbauml. Eliza simulava respostas de um psicoterapeuta, e mesmo com respostas simples e genéricas, os usuários frequentemente acreditavam que ela realmente entendia suas emoções. Isso mostrou o quanto os humanos podem projetar qualidades humanas em máquinas.
Recentemente houve uma tragédia, envolvendo um jovem de 17 anos que vivia na Flórida, Estados Unidos. Ele se apaixonou por um avatar de Inteligência Artificial, o que teria contribuído para que ele atentasse contra a própria vida, infelizmente com sucesso. Muito longe da inocente história de comédia e amor do clássico filme de 1984, "Amores Eletrônicos", esse tipo de caso demonstra que emocionalmente uma Inteligência Artificial pode, ao mesmo tempo, ser uma diversão, alívio e conforto emocional para alguns, ou um canal para que potenciais problemas emocionais e psicológicos aflorem ou se intensifiquem.Às vezes, de maneiras trágicas.
Se no mundo real a Inteligência Artificial apresenta este potencial danoso, no cinema este potencial já foi bem explorado em inúmeras obras, rendendo ótimas bilheterias, multidões de fãs, e pelo menos até certo ponto, boas reflexões sobre a tecnologia e a própria natureza humana. Filmes como Exterminador do Futuro, Matrix, 2001: Uma Odisseia no Espaço e geração Proteus, além de obras literárias, como "Não tenho boca e preciso gritar" retratam futuros distópicos ou situações presentes, nos quais a Inteligência Artificial acaba causando inúmeros danos, tentando manipular, controlar ou então exterminar alguns humanos em particular, ou até mesmo toda a humanidade. Mas até que ponto esses cenários são realistas?
Embora as Inteligências Artificiais atuais estejam longe de se rebelarem contra seus criadores, o avanço rápido dessa tecnologia levanta questões importantes sobre seu potencial danoso. Como falei há pouco, a Inteligência Artificial tem o poder de causar grandes impactos sociais, econômicos e políticos. Mas ela é, pelo menos ainda, uma ferramenta. E como qualquer ferramenta, o papel que ela desempenhará no futuro, para o bem ou para o mal, dependerá daqueles que a estão usando, e principalmente, desenvolvendo.
Então, o que podemos esperar para o futuro da Inteligência Artificial?
Ela tem o potencial de transformar a sociedade para melhor, desde que seja usada de forma responsável e com a supervisão e transparência adequadas. O futuro da Inteligência Artificial depende de como nós, como sociedade, decidiremos usá-la. Tudo é possível no estágio em que nos encontramos. A Inteligência Artificial, pelo menos ainda, é totalmente subserviente à vontade humana, e o mal que ela pode desempenhar na verdade, é o mal que outros humanos, intencionalmente ou não, podem cometer quando decidem usá-la de maneira egoísta, guiados por seus vieses sociais, políticos, econômicos e emocionais. O avanço desta tecnologia deve ser acompanhado por discussões sobre ética e regulamentação, para que ela não possa ser usada contra os humanos de forma prejudicial, de qualquer forma.
Porém, sou cética. Até mesmo pessimista.
Não creio que a Inteligência Artificial chegue ao ponto de, por ela mesma, nos fazer mal, nos dominar ou exterminar. Mas entendo que ela tende a ser usada cada vez mais para o mal, por outros seres humanos, como arma ou ferramenta. Se a humanidade não conseguiu uma regulação para obrigar que a pólvora seja usada apenas em fogos de artifício, porque eu acreditaria que conseguiriam fazer o mesmo com a Inteligência Artificial?
Mas no final, eu posso estar errada.
Na verdade, eu espero estar errada, para o bem de todos nós.
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