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A Antártica...
Uma vastidão branca e inóspita, coberta por gelo eterno, e ao mesmo tempo, uma das regiões mais protegidas e restritas do planeta. Apenas cientistas e expedições com autorização de governos signatários do Tratado da Antártida, estabelecido em 1959, tem acesso ao continente. O turismo é extremamente restrito, e qualquer visita do público em geral precisa seguir rigorosos controles ambientais, e ser feita através de poucos operadores turísticos regulamentados, penas em locais pré-determinados.
Mas por que a Antártica inteira está envolta em tantas regras rígidas? Há algum mistério ou segredo na Antártica que os governos de dezenas de países tentam esconder de todos?
Em 1959, o Tratado da Antártida foi assinado por 12 países, incluindo Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e Argentina, marcando o início de um regime internacional único. Ele entrou em vigor em 1961, e desde então, foi assinado por mais de 50 países. Esse tratado proíbe atividades militares, testes nucleares e a exploração de recursos minerais em todo o continente Antártico.
Apesar do tratado estar sendo questionado na atualidade, com alguns países reivindicando partes do território da Antártica para si, o acordo continua ativo e sendo seguido. Mas por que proteger um continente desabitado?
A principal justificativa é a preservação do ambiente para pesquisas científicas. A Antártica é um laboratório natural para o estudo do clima, da vida marinha e até mesmo do espaço. Além disso, estudar suas camadas de gelo oferece pistas sobre as mudanças climáticas e a história do nosso planeta.
Mas onde há mistério, há especulação.
Ao longo dos anos, várias teorias da conspiração emergiram para tentar explicar porque a Antártica é tão restrita. Uma delas sugere a existência de bases secretas de superpotências, usadas para experimentos militares avançados.
Outra teoria popular é de que, sob o gelo, existem ruínas de civilizações antigas ou até mesmo entradas para a assim chamada Terra Oca.
Outra teoria que vem ganhando popularidade é a de que Antártica é o fim do mundo, ou uma gigantesca muralha de gelo, que delimita a borda da Terra Plana e o início da cúpula protetora que recobre nosso planeta.
E claro, não podemos esquecer dos rumores sobre a presença de OVNIs, bases alienígenas e tecnologia extraterrestre.
Uma das conspirações Antárticas mais conhecidas envolve os nazistas. Alguns afirmam que durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas teriam estabelecido uma base secreta na Antártica, conhecida como base 211. Essa teoria sugere que após a queda de Hitler, membros de sua Elite fugiram para lá, onde continuaram seus experimentos secretos.
Mas o que dizem as evidências?
Embora muitas dessas histórias tenham fascinado o público por décadas, até hoje não há provas concretas de que nada disso seja verdade. As teorias sobre bases secretas, civilizações perdidas, Terra Plana ou atividade extraterrestre são amplamente desacreditadas por cientistas e historiadores.
A Antártica é monitorada de perto por diversos países e as pesquisas realizadas lá são de natureza científica. O Tratado da Antártica, inclusive, garante o intercâmbio de informações entre as nações, tornando impossível esconder qualquer grande segredo. Mesmo que o Tratado fosse apenas um engodo, e houvesse um conluio entre todas as nações envolvidas, seria virtualmente impossível esconder completamente informações, além de provas, de qualquer uma das teorias aqui apontadas. A operação seria grande e complexa demais para evitar vazamento substanciais.
Adicione a isso a proteção que os tratados internacionais colocam a respeito de exploração natural, que proíbem a extração de petróleo ou minerais. Todo o aparato jurídico que foi construído e aceito pela maior parte das Nações do planeta, visa tornar a Antártica intocada, longe dos danos que a exploração econômica poderia causar.
É difícil de imaginar que diferentes países do mundo se abstenham, por livre e espontânea vontade, de buscarem vantagens para si mesmos. Mas aparentemente é o que ocorreu no caso da Antártica. Lembre-se que o Tratado da Antártica não foi escrito da noite para o dia, e as negociações para que cada país aderisse não foram fáceis. Muita negociação ocorreu, sendo este um dos maiores marcos da diplomacia mundial em toda a história.
Os motivos do porquê todas essas teorias da conspiração continuam podem ser atribuídas a inúmeros motivos, sendo que a imaginação humana dedicada a lugares distantes, inacessíveis e inóspitos pode ser uma das principais. Quem não se lembra de todas as grandes histórias a respeito da Amazônia e da América Central na antiguidade, repleta de lendas de cidades perdidas com tesouros incalculáveis e segredos antiquíssimos, tribos selvagens canibais, e mais toda uma sorte de perigos e aventura? Ou então as histórias envolvendo Marte e seus indícios de vida extraterrestre no passado, inspiradas por uma grande quantidade de imagens e filmagens, que por sua vez seriam provas de tais afirmações, mas que podem tranquilamente ser explicadas pelo fenômeno da pareidolia ou outros fenômenos naturais?
A Antártica se encaixaria então na mesma categoria, sendo simplesmente um lugar misterioso e inóspito o suficiente para alimentar a imaginação humana. Já outros alegam que é o sigilo natural imposto pelos tratados, assim como a dificuldade de acesso, que dão margem para tantas especulações.
Mas o fato é que a Antártica já atraía o imaginário humano muito antes de qualquer embargo ou acordo internacional ser cogitado, e isso pode ter servido de combustível para as teorias da conspiração modernas. Desde o século XIX, a literatura já tratava o continente como um local misterioso e exótico, palco de histórias fantásticas e assustadoras.
Em 1838, Edgar Alan Poe escreveu o livro chamado "A Narrativa de Arthur Gordon Pym". O livro é focado no personagem Pym, que embarca em uma série de aventuras após se esconderem um navio baleeiro. Ele enfrenta motins, naufrágios, canibalismo e é resgatado por outro navio, mas a situação piora com descobertas macabras e encontros estranhos. A jornada continua até os confins da Antártica, quando Pym e o marinheiro Dirk Peters seguem rumo ao Polo Sul em um pequeno barco, após enfrentarem tribos hostis e uma série de eventos trágicos. Eles se deparam com fenômenos misteriosos e são envolvidos por uma névoa branca e luminosa. A narrativa termina abruptamente quando encontram uma figura gigantesca e enigmática envolta em branco, deixando o destino de Pym o verdadeiro significado do encontro abertos à interpretação.
Antes disso, ainda em 1820, Jonathan Seymour publicou o livro chamado "Symzonia: uma viagem de descoberta". Este é considerado o primeiro livro de ficção envolvendo a Antártica. Mas Jonathan Seymour foi apenas um pseudônimo usado pelo verdadeiro autor, que permanece desconhecido até os dias atuais, mas que muitos acreditam ter sido John Cleves Symmes Jr., um dos primeiros defensores da teoria da Terra Oca. A história segue o capitão Seaborn, que navega para dentro da Terra, descobrindo a entrada para um continente subterrâneo na Antártica. Lá ele descobre uma civilização avançada e descobre que o nome do local é Symzonia, e explora a cultura e a sociedade dos Symzonianos. No final da história, o capitão Seaborn é expulso de Symzonia por ter trazido o mal e a corrupção humana para lá, retornando à superfície sem evidências de sua descoberta.
Em 1936, H.P. Lovecraft, famoso autor de terror, escreveu um de seus contos mais conhecidos, e também uma das histórias mais assustadoras tendo a Antártica como palco. Estamos falando de "Nas Montanhas da Loucura". A história narra a expedição de geólogos Antártica, onde descobrem ruínas alienígenas e cadáveres de antigas criaturas chamadas de "Antigos". À medida que exploram, percebem que essas formas de vida controlavam a Terra milhões de anos atrás, e foram destruídas por suas próprias criações, os "Shoggoths". No final, o protagonista expressa horror ao perceber que as criaturas que construíram a cidade eram formas de vida extraterrestres antigas, mortas por suas crias, que ainda poderiam estar vivas nas profundezas geladas do continente. "Eu gritei no alto das montanhas e para o espaço eterno, mas só ouvi o o eco do silêncio da loucura que jaz lá embaixo."
Uma história bem mais recente, contada em formato de filme em 1982, é de "Enigma de Outro Mundo", do diretor John Carpenter e do roteirista Bill Lancaster. O filme é uma adaptação do conto de John W. Campbell Jr. chamado de "Quem vem lá?", publicado em 1938. A história trata de uma equipe de cientistas em uma base na Antártica, que descobre uma forma de vida alienígena capaz de imitar qualquer organismo que infecta. Conforme a criatura começa a se espalhar, os membros da equipe se tornam paranoicos, sem saber em quem podem confiar. No final, após uma batalha intensa contra a criatura, os dois sobreviventes finais estão desconfiados um do outro, esperando no frio por um resgate que nunca virá, sem saber se algum deles foi infectado.
Essa pequena amostra exemplifica como a Antártica sempre trouxe histórias fantásticas à mente humana, que é simplesmente sedenta por histórias. Esse é um dos aspectos mais marcantes e interessantes de nossa espécie, desde nossos primórdios. Esse desejo de ouvir, contar e criar histórias é uma característica fundamental da nossa natureza social e criativa, que continua a moldar a cultura, a arte e a comunicação hoje. Isso pode ser uma explicação plausível do porque criamos tantas teorias da conspiração, e do porque elas são tão populares.
Concluo que embora as teorias da conspiração sobre a Antártica capturem em nossa imaginação, a realidade é mais simples e monótona. A Antártica é apenas uma fronteira científica, preservada para estudos que ajudam a humanidade a compreender melhor nosso planeta e o impacto das mudanças climáticas. Mas com o aquecimento global e o derretimento do gelo, quem sabe o que mais será revelado sobre essa vasta extensão branca?
Talvez a Antártica ainda guarde segredos que nem imaginamos, logo abaixo da sua superfície de gelo.
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