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O experimento Filadélfia é uma antiga lenda urbana que evoca imagens de ciência secreta e tecnologia desconhecida. Ela se baseia em alegações de que em 1943 o USS Eldridge, um navio contra torpedeiro da Marinha dos Estados Unidos foi submetido a experimentos de invisibilidade e teleportação.
A história começou a circular em 1955, quando Carl Allen, também conhecido como Carlos Allend, mandou cartas para Morris Jessup, um autor de livros sobre OVNIs, afirmando que o USS Eldridge foi parte de um experimento militar secreto na Filadélfia, e que ele havia sido testemunha.
Allen descreveu como o navio teria se tornado invisível, desaparecendo e reaparecendo a quilômetros de distância. Essa narrativa foi amplamente divulgada por autores de teorias da conspiração, solidificando sua presença na cultura popular, e continua sendo explorada até os dias atuais, como um ótimo click-bait para todos aqueles que se interessam por mistérios inexplicáveis.
Um aspecto perturbador do mito é a alegação de que a tripulação do USS Eldridge sofreu efeitos colaterais graves após o experimento, como confusão mental e até mesmo morte. Algumas versões da história citam inclusive que membros da tripulação haviam se fundido ao navio, algo extremamente perturbador.
No entanto, não há nem mesmo uma sombra de evidência ou pedaço de pista que possa, mesmo que remotamente, sustentar esses relatos. As investigações mostram que os membros da tripulação continuaram suas vidas normalmente após 1943, e não há evidências de qualquer evento trágico associado ao navio durante todo aquele período.
Oficialmente, o USS Eldridge foi lançado ao mar em Julho de 1943, e passou por treinamentos de tripulação e testes de equipamentos antes de sua primeira missão, em setembro do mesmo ano. Durante esse período, ele esteve em vários portos, realizando operações normais de prontidão para combate e treinamento na costa leste dos Estados Unidos e nas Bermudas.
Os registros oficiais da marinha dos Estados Unidos mostram que ele não esteve na Filadélfia no período correspondente à alegações do Experimento Filadélfia. Além disso, o relato de Allen, embora popular, tem várias contradições.
Muitas de suas alegações foram desmentidas por outros membros da própria tripulação do USS Eldridge e por inúmeros registros oficiais, que por sua vez, seriam muito difíceis de serem forjados. O próprio Allen admitiu, anos depois, que algumas partes de sua história eram invenções ou exageros. A inconsistência em seus relatos levanta sérias dúvidas sobre a veracidade do que ele afirmou.
Mas então, por que essa história se tornou tão popular e perdura há tanto tempo no imaginário conspiracionista?
Bem, vamos nos lembrar de que a Guerra Fria trouxe uma onda de desconfiança em relação ao governo e suas atividades. Os mistérios envolvendo ciência secreta e encobrimentos governamentais alimentaram a imaginação em ambos os lados do mundo, e nos Estados Unidos não seria diferente. A ideia de que o governo estaria testando tecnologias além da compreensão pública ressoa profundamente com as narrativas de controle e manipulação. Não vamos esquecer que o projeto Manhattan foi real e também produziu, de maneira extremamente secreta, uma tecnologia que na época era além da compreensão pública.
Então, uma repetição desse padrão era algo que todos conseguiam aceitar de maneira razoavelmente fácil. Havia portanto um cenário favorável para que a história ganhasse popularidade.
Mas de onde veio essa história então? Ela surgiu do nada ou houve algo a partir do qual a história se baseou de alguma forma?
Uma possível explicação para sua origem seria uma confusão, ou se quiser, uma licença poética, com outro projeto científico militar que estava sendo realizado na época. A marinha norte-americana conduziu, durante a guerra, um projeto de desmagnetização dos cascos, que tinha como missão proteger navios de minas magnéticas inimigas.
Essa técnica envolvia a criação de campos eletromagnéticos ao redor do navio, o que pode ter levado à crença de que o USS Eldridge se tornou invisível. Documentos da marinha confirmam que essa técnica foi amplamente utilizada na época em que o USS Eldridge esteve comissionado.
Assim, infelizmente devo concluir que toda a história sobre o Experimento Filadélfia, por mais interessante e fantástica que seja, me parece simplesmente falsa. Ela não se sustenta, já que que não há nem sequer uma única ponta de informação fundamentada que possa indicar ou dar brecha para que possamos acreditar que ele é real. Carl Allen provavelmente queria apenas contar uma história interessante, que seria fenomenal caso fosse lançada em um livro como a ficção que parece ser. Mas ao ser contada como se fosse real, ao mesmo tempo em que se tornou famosa, também se tornou estigmatizada como algo tolo.
O Experimento Filadélfia, no fim, pode ser apenas um bom exemplo de como rumores, medo e paranoia podem se transformar em lendas urbanas quando expostas ao público certo no tempo certo.
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