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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PODE MUDAR CRENÇA EM TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO?


A pesquisa desafia a sabedoria convencional de que evidências e argumentos raramente ajudam a mudar a mentalidade dos crentes. Pesquisadores da American University realizaram experimentos envolvendo 2.190 crentes em teorias da conspiração.

Seja a ideia equivocada de que os pousos na Lua nunca aconteceram, ou a falsa alegação de que as vacinas contra a Covid contêm microchips, as teorias da conspiração abundam, às vezes com consequências perigosas.

Agora, pesquisadores descobriram que tais crenças podem ser alteradas por um bate-papo com inteligência artificial (IA).

“A sabedoria convencional dirá que as pessoas que acreditam em teorias da conspiração raramente, ou nunca, mudam de ideia. Especialmente de acordo com as evidências”, disse o Dr. Thomas Costello, coautor do estudo da American University.

Isso, ele acrescentou, é pensado tendo-se em mente que estas pessoas adotaram tais crenças com a finalidade de atender a várias necessidades – como o desejo por controle. No entanto, o novo estudo oferece uma postura diferente.

“Nossas descobertas desafiam fundamentalmente a visão de que evidências e argumentos são de pouca utilidade quando alguém 'cai na toca do coelho' e passa a acreditar em uma teoria da conspiração”, escreveu a equipe.

Fundamentalmente, disseram os pesquisadores, a abordagem depende de um sistema de IA que pode recorrer a uma vasta gama de informações para produzir conversas que incentivem o pensamento crítico e forneçam contra-argumentos personalizados e baseados em fatos.

“A IA sabia de antemão no que a pessoa acreditava e, por isso, foi capaz de adaptar sua persuasão ao sistema de crenças da pessoa com precisão”, disse Costello.

Em um artigo na revista Science, Costello e seus colegas relataram como realizaram uma série de experimentos envolvendo 2.190 participantes que acreditavam em teorias da conspiração.

Embora os experimentos tenham variado um pouco, todos os participantes foram solicitados a descrever uma teoria da conspiração específica em que acreditavam e as evidências que achavam que a apoiavam. Isso foi então alimentado em um sistema de IA chamado “DebunkBot”.

Os participantes também foram solicitados a classificar, em uma escala de 100 pontos, o quão verdadeira eles achavam que a teoria da conspiração era.

Eles então conscientemente empreenderam uma conversa de três rodadas de ida e volta com o sistema de IA sobre sua teoria da conspiração ou um tópico não conspiratório. Depois, os participantes mais uma vez classificaram o quão verdadeira eles achavam que sua teoria da conspiração era.

Os resultados revelaram que aqueles que discutiram tópicos não conspiratórios apenas diminuíram ligeiramente sua classificação de “verdade” depois da conversa. No entanto, aqueles que discutiram sua teoria da conspiração com IA mostraram, em média, uma queda de 20% em sua crença de que ela era verdade.

A equipe disse que os efeitos pareceram durar pelo menos por dois meses, enquanto que a abordagem funcionou para quase todos os tipos de teorias da conspiração – embora não para aquelas que eram verdadeiras.

Os pesquisadores acrescentaram que o tamanho do efeito dependia de fatores como a importância da crença para o participante e sua confiança na IA.

“Cerca de uma em cada quatro pessoas que começaram o experimento acreditando em uma teoria da conspiração saíram do outro lado sem essa crença”, disse Costello.

“Na maioria dos casos, a IA só consegue desbastar – deixando as pessoas um pouco mais céticas e incertas – mas alguns poucos selecionados foram completamente desiludidos de sua conspiração.”

Os pesquisadores acrescentaram que reduzir a crença em uma teoria da conspiração pareceu reduzir a crença dos participantes em outras ideias semelhantes, pelo menos em um pequeno grau, enquanto a abordagem poderia ter aplicações no mundo real – por exemplo, a IA poderia responder a postagens relacionadas a teorias da conspiração nas redes sociais.

O professor Sander van der Linden, da Universidade de Cambridge, que não estava envolvido no trabalho, questionou se as pessoas se envolveriam com essa IA voluntariamente no mundo real.

Ele também disse que não estava claro se resultados semelhantes seriam encontrados caso os participantes tivessem conversado com um humano anônimo, embora também haja dúvidas sobre como a IA estava convencendo os adeptos da conspiração, já que o sistema também usa estratégias como empatia e afirmação.

Mas, ele acrescentou: “No geral, é uma descoberta realmente nova e potencialmente importante, e uma boa ilustração de como a IA pode ser aproveitada para combater a desinformação”.



Livre tradução do artigo AI can change belief in conspiracy theories, study finds publicado em 12/09/2024 por Nicola Davis no site THE GUARDIAN disponível em https://www.theguardian.com/science/2024/sep/12/ai-can-change-belief-in-conspiracy-theories-study-finds

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