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CIÊNCIA E FRAUDES

 


Há um novo vídeo no nosso canal no Youtube, veja abaixo a transcrição ou assista ao vídeo se assim desejar.

Ao longo da história, a ciência se mostrou como o melhor método que temos para entender o mundo e promover avanços significativos em várias áreas. No entanto, é importante lembrar que a ciência não é perfeita. Ela é feita por humanos, e como tal, está sujeita a erros, vieses e até mesmo fraudes.

Hoje vamos explorar casos notórios em que a confiança na pesquisa científica foi comprometida, destacando a importância da transparência e da integridade em um campo tão crucial.


1 - O caso de Andrew Wakefield

Começamos com Andrew Wakefield, que em 1998 publicou um estudo na revista de Lancer alegando uma ligação entre a vacina MMR e o autismo.

Investigações subsequentes revelaram que ele tinha conflitos de interesse, pois era financiado por advogados que processavam fabricantes de vacinas. O estudo foi retirado, mas causou um aumento significativo na hesitação vacinal em todo o mundo.

Andrew Wakefield perdeu sua licença médica no Reino Unido em 2010, e apesar de nunca ter conseguido reproduzir ou comprovar por meio de revisão formal os dados de sua pesquisa de 1998, ainda possui apoiadores em grupos anti-vacina, que alegam que ele foi vítima de um assassinato de reputação pela Indústria Farmacêutica.

Em 2016 ele lançou um documentário, chamado de VAXXED, onde alega que a vacina contra cachumba apresenta riscos. Isso gerou mais preocupações sobre sua influência na opinião pública e nas taxas de vacinação.


2 - O escândalo da pesquisa climática

O escândalo dos e- meios climáticos de 2009, chamado também de CLIMATEGATE, ocorreu quando hackers vazaram correspondências de cientistas que trabalhavam em pesquisas sobre mudanças climáticas, na unidade de pesquisa climática da Universidade da Anglia Oriental, no Reino Unido.

Críticos apontaram para trechos específicos, que pareciam sugerir uma tentativa de esconder o declínio nas temperaturas globais, e excluir dados que não corroboravam a narrativa do aquecimento global.

Isso alimentou os argumentos dos negacionistas climáticos, levando a uma série de Investigações formais independentes, conduzidas por parte do Parlamento Britânico, pela administração Nacional Oceânica e atmosférica dos Estados Unidos (também conhecido como NOOA) e a também pela própria Universidade da Anglia Oriental.

Todas as investigações concluíram que não houve fraude científica ou manipulação de dados, e que o consenso sobre as mudanças climáticas permanecia sólido.

Embora as investigações inocentassem os cientistas de qualquer irregularidade, o dano à percepção pública já estava feito, e o CLIMATEGATE ainda é frequentemente citado por céticos climáticos como evidência de supostas conspirações científicas.

Na verdade, a maioria dos cientistas concorda que as mudanças climáticas são reais. Infelizmente, todos nós podemos testemunhar em primeira mão o quanto o clima está cada vez mais instável, com secas, enchentes e temperaturas extremas sendo cada vez mais comuns.

O que ainda está em debate, porém, é o peso real da ação do homem nestas mudanças.

A maior parte da comunidade científica considera que a ação do homem é muito grande, mas existem muitos institutos de pesquisa e pesquisadores sérios, como Ivar Giaever, ganhador do prêmio Nobel de Física, que descartam a ação do homem nestas mudanças e as atribuem a fenômenos naturais cíclicos do planeta Terra, cujo funcionamento ainda não é compreendido, e que ocorreriam quer a humanidade existisse ou não.


3 - O caso de Paolo Macchiarini.

Paolo Macchiarini, renomado cirurgião torácico e ex-pesquisador de medicina regenerativa, prometeu revolucionar a medicina com traqueias artificiais. Ele realizou diversas cirurgias experimentais com uma técnica criada por ele, onde usava uma traqueia artificial revestida de células tronco dos pacientes, que por sua vez sofreram complicações severas ou morreram em consequência dos procedimentos.

Os problemas começaram quando colegas e investigadores internos no Instituto Karolinska, onde ele trabalhava, levantaram preocupações sobre seus métodos e o estado de seus pacientes pós-operatórios.

Uma das maiores controvérsias envolveu o fato de que Macchiarini exagerava a eficácia de seus transplantes, enquanto pacientes que haviam recebido suas traqueias artificiais sofriam complicações graves, e em muitos casos, morriam.

Na investigação do Instituto Karolinska, que dentre outras coisas concede o prêmio Nobel de medicina, descobriram a falsificação dos dados de suas pesquisas, os levando a demiti-lo em 2016.

Diversas investigações criminais, inclusive por homicídio culposo, foram realizadas em seguida. Elas não só desacreditaram a pesquisa de Macchiarini como também levaram a um escrutínio maior sobre a ciência médica experimental e as implicações éticas de tais práticas.

O escândalo acabou por também atingir a credibilidade do próprio Instituto Karolinska, que passou a ser criticado pela falta de supervisão rigorosa em relação às atividades do médico.

Este foi, com certeza, um dos maiores escândalos médicos da década de 2010, sendo amplamente coberto pela imprensa internacional.


4 -O caso de Hwang Woo-suk

Hwang Woo-suk, um pesquisador sul-coreano, começou a ganhar destaque em 2004, quando publicou um artigo na prestigiada revista Science, no qual afirmava ter clonado, com sucesso, embriões humanos, e extraído dele células tronco embrionárias. Isso representava uma potencial revolução na medicina regenerativa, prometendo curas para doenças como parkinson, diabetes e lesões na medula espinhal.

No ano seguinte, em 2005, ele publicou outro artigo na mesma revista, alegando ter clonado células tronco específicas de pacientes, uma descoberta que sugeriria uma solução para o problema da rejeição de órgãos transplantados.

Essas afirmações, obviamente, o colocaram no centro das atenções da comunidade científica global, e ele foi celebrado como pioneiro em sua área.

No entanto, dúvidas começaram a surgir, principalmente depois que pesquisadores externos e colegas do laboratório questionaram a validade de seus experimentos.

Uma investigação formal foi iniciada, e no final de 2005, as evidências começaram a se acumular contra Hwang. Foi revelado que muitos de seus resultados haviam sido fabricados ou manipulados, e que ele não havia conseguido clonar com sucesso embriões humanos como havia alegado.

Além disso, ficou claro que ele havia utilizado óvulos de suas próprias assistentes de laboratório para realizar os experimentos, violando normas éticas.

Em janeiro de 2006, um comitê da Universidade Nacional de Seul, onde Huang trabalhava, confirmou que os dados em seus artigos de 2004 e 2005 haviam sido falsificados.

Em 2009 ele foi condenado por fraude e violação de normas éticas, mas recebeu uma sentença suspensa.

Apesar de ter a carreira praticamente arruinada, Hwang continua realizando pesquisas no campo da clonagem animal, um campo bem menos proeminente, mas onde ele tem encontrado certo sucesso, clonando especialmente cães de estimação e espécies ameaçadas de extinção.

O caso de Hwang Woo-suk abalou a confiança na pesquisa com células tronco, e levou a uma revisão global das práticas de supervisão ética em pesquisas biomédicas.


5 - O caso de Diederik Stapel

Diederik Stapel, psicólogo holandês, foi pego fabricando dados em mais de 50 publicações, no que é considerado como um dos maiores casos de fraude científica da história da Psicologia. Ele era um pesquisador altamente respeitado e professor da universidade de Tilburg, conhecido por seus estudos inovadores em comportamento social e estereótipos.

No entanto, em 2011, foi revelado que Stapel havia fabricado ou manipulado dados em dezenas de seus artigos, prejudicando gravemente a credibilidade da área de psicologia social, e em especial a credibilidade de sua pesquisa, que abordava questões como comportamento social e decisões econômicas.

A fraude foi descoberta por uma investigação conduzida por colegas e ex-alunos, iniciada quando estudantes de doutorado começaram a notar irregularidades e inconsistências nos dados dos estudos supervisionados por Stapel.

Uma comissão de investigação foi formada para examinar seu trabalho, e descobriu-se que, em vez de realizar os experimentos que ele alegava, Stapel inventava dados para sustentar suas hipóteses. Isso ocorreu em pelo menos 55 artigos científicos publicados em revistas renomadas e em vários capítulos de livros.

Assim que a fraude foi confirmada, Stapel perdeu seu cargo de professor na universidade de Tilburg, e foi forçado a devolver seu título de doutorado honorário.

Além disso, suas publicações fraudulentas foram retratadas por várias revistas científicas.

A investigação mostrou que Stapel atuou sozinho na fraude, sem envolvimento direto de outros pesquisadores.

Embora suas práticas tenham levantado questões sobre a supervisão acadêmica em geral.

Desde o escândalo, Stapel se desculpou publicamente e publicou um livro biográfico, cujo título é, em português, "Descarrilamento". Nele, ele reflete sobre suas ações e tenta explicar como se envolveu na fraude científica.

Apesar de suas desculpas, ele permanece uma figura controversa, e sua carreira acadêmica foi efetivamente destruída.

O impacto do escândalo foi devastador para a psicologia social, levando a uma revisão das práticas de pesquisa e uma maior ênfase na transparência e replicação de estudos.

O caso de Stapel gerou um amplo debate sobre a pressão por publicações e resultados impactantes no meio acadêmico, contribuindo para um ambiente onde a fabricação de dados pode ser incentivada de maneira implícita.


6 - O caso de Yoshitaka Fujii

Yoshitaka Fujii, um promissor anestesiologista japonês, foi descoberto fabricando dados em centenas de artigos de sua autoria.

Fujii começou sua carreira publicando pesquisa sobre anestesia e a eficácia de medicamentos antieméticos, contra náuseas e vômitos pós-cirúrgicos. No entanto, em 2012, foi revelado que ele havia manipulado ou inventado dados em grande parte de suas publicações.

A suspeita começou a surgir quando alguns de seus trabalhos foram examinados mais de perto, e descobriu-se que os resultados pareciam ser bons demais para ser verdade.

Investigações posteriores mostraram que muitos de seus estudos continham dados falsificados, inclusive trabalhos que envolviam centenas de pacientes, os quais nunca existiram.

A magnitude de suas fraudes foi impressionante. Estima-se que Fujii tenha fabricado dados em pelo menos 183 artigos científicos, tornando-se o autor com mais retratações de artigos científicos da história, superando outros casos notórios de fraude.

O comitê de investigação concluiu que, em muitos casos, Fujii nem sequer conduziu os experimentos ou ensaios clínicos que ele descreveu em seus artigos, mas simplesmente inventou os dados.

Fujii conseguiu enganar a comunidade científica por tanto tempo porque seus estudos tratavam de temas que não despertavam grande atenção, e porque ele frequentemente publicava em periódicos de menor visibilidade.

Além disso, ele usava a mesma base de dados em vários estudos, mas aplicava pequenas variações, o que dificultava a detecção da fraude.

Ele também se aproveitou do fato de que a revisão por pares, apesar de ser o método principal para garantir a qualidade da ciência, não é a prova de falhas. Os revisores confiam nos autores para serem honestos em sua apresentação de dados.

No caso de Fujii, suas fraudes passaram despercebidas até que padrões inusitados em seus dados começaram a ser notados por outros cientistas. Como resultado, Fujii teve seus artigos retratados em revistas científicas prestigiadas, incluindo a Canadian Journal of Anesthesia e o British Journal of Anesthesia.

A retratação em massa dos artigos de Fujii também levantou questões sobre a falha dos sistemas de revisão por pares, uma vez que suas fraudes passaram despercebidas por muitos anos.

Sua instituição, a Universidade Toho no Japão, foi duramente criticada por não ter supervisionado adequadamente suas atividades de pesquisa, e por não detectar a fraude mais cedo.

Embora tenha sido demitido e completamente desacreditado, o escândalo afetou gravemente a credibilidade da pesquisa na área de anestesiologia, forçando revisões rigorosas nos processos de revisão e publicação científica.


7 - O caso de Michael Lacour

O caso de Michael Lacour foi um escândalo acadêmico que aconteceu em 2015, quando se descobriu que um estudo altamente divulgado, coautorado por Lacour, era baseado em dados fraudulentos.

O estudo, publicado inicialmente na revista Science em 2014, afirmava que conversas de curta duração com pessoas LGBT podiam aumentar o apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, um resultado que teve grande repercussão na mídia e entre os defensores dos direitos civis.

Michael Lacour, então um estudante de doutorado, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, foi coautor do estudo junto com o professor Donald Green, da Universidade de Colúmbia.

O estudo foi amplamente elogiado por sua metodologia inovadora, e seus resultados positivos, que sugeriam que conversas cara a cara com indivíduos LGBT poderiam mudar as atitudes dos eleitores em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, de forma duradora.

O estudo ganhou muita atenção por sugerir uma estratégia poderosa para mudanças sociais, e foi amplamente citado por defensores dos direitos LGBT e profissionais de comunicação política. No entanto, cerca de um ano após sua publicação, surgiram dúvidas sobre a veracidade dos dados.

David Brookman e Joshua Kalla, dois jovens pesquisadores da Universidade de Stanford, tentaram replicar o estudo de Lacour, mas não conseguiram encontrar evidências de que os dados fossem reais. Eles perceberam inconsistências nos números e nos métodos de coleta de dados descritos por Lacour.

Isso os levou a suspeitar que os resultados haviam sido fabricados.

Eles então procuraram Donald Green, o coautor de Lacour, que prontamente pediu à Science que retratasse o artigo.

A investigação subsequente mostrou que Lacour havia mentido sobre a origem de seus dados, inventando participantes e doações fictícias para sustentar os resultados do estudo.

Em maio de 2015, a revista Science oficialmente retratou a artigo. A descoberta da fraude acabou com a carreira acadêmica de Michael Lacour antes mesmo que ela realmente começasse. Ele não recebeu seu doutorado pela UCLA, e a reputação acadêmica que ele havia construído rapidamente se desfez.

Donald Green, por outro lado, foi amplamente exonerado, pois ficou claro que ele havia confiado em Lacour para fornecer dados verdadeiros.

O caso teve repercussões importantes sobre a revisão por pares, e também na confiança no campo das ciências sociais, gerando um debate sobre como a pressão por resultados inovadores e positivos pode levar a casos de má conduta científica.

Além disso, a fraude levou a uma maior conscientização sobre a necessidade de replicação e validação de estudos científicos, especialmente em áreas como a psicologia e a ciência política.

Por fim, o caso é um forte exemplo de como pautas políticas podem impor resultados pré-determinados a estudos e trabalhos científicos, facilitando sua publicação e aceitação simplesmente por apresentar resultados que colaboram com alguma narrativa na guerra política que assola nosso mundo.


Como você pode ver, a ciência, apesar de seu papel fundamental no avanço do conhecimento humano, não é infalível. Ao longo da história, testemunhamos casos alarmantes de fraudes científicas, que revelaram como indivíduos desonestos podem manipular dados e publicar resultados enganosos, para atender a interesses pessoais ou profissionais.

No entanto, esses casos, embora prejudiciais, não devem levar a uma desconfiança total no método científico.

A ciência, em sua essência, possui mecanismos internos que permitem identificar e corrigir tais fraudes. Através do processo de revisão contínua, de melhores práticas de controle e da replicação de estudos e da retratação de publicações, a comunidade científica trabalha para manter a integridade e a confiabilidade de seus achados.

A capacidade da ciência de se autocorrigir, realizando correções de rota durante seu percurso na história humana, é uma de suas maiores qualidades. A identificação e retratação de trabalhos fraudulentos, como os Andrew Wakefield ou de Diederik Stapel exemplificam que a comunidade científica não se esquiva de reconhecer erros e fraudes.

A transparência e a crítica constante são essenciais para garantir que os resultados científicos sejam seguros e confiáveis a médio e longo prazo. Isso oferece ao público e à sociedade em geral, uma base sólida para confiar nas descobertas científicas, mesmo diante dos escândalos.

É vital que a ciência permaneça neutra, livre de manipulações e pressões econômicas e políticas, para garantir sua eficácia e credibilidade. Interferências externas frequentemente distorcem a pesquisa e comprometem a objetividade dos resultados.

Ao mesmo tempo, em um mundo onde a maior parte do financiamento científico já imputa vieses nas linhas das pesquisas, encontrar o equilíbrio entre independência, lisura científica e viabilidade econômica parecem ser uma equação ainda sem solução.

A integridade científica deve ser protegida, para que continuemos a avançar em direção a um futuro mais informado e baseado em evidências. Somente assim poderemos assegurar que a ciência continue sendo a melhor ferramenta que a humanidade possui para compreender o mundo e resolver seus desafios.

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