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PRIVACIDADE ONDE? DOCUMENTÁRIO "SUJEITO A TERMOS E CONDIÇÕES"


Existe um documentário disponível na Netflix (que pode ser encontrado na Internet também, não sei por quanto tempo) chamado Terms And Conditions May Apply (Sujeito a Termos e Condições).


Recomendo muito, muito mesmo, que assistam.

Seu assunto é privacidade virtual, e ele é ótimo para os leigos como eu entenderem de maneira simples como é feito o monitoramento de absolutamente TUDO o que fazemos na Internet, por que as empresas se interessam em fazer isso, o início dessa prática com a ocorrência dos ataques de 11 de setembro nos EUA em 2001, e no que se transformou essa prática com o passar do tempo, assim como os truques a que somos expostos para não nos preocuparmos com nossos dados nas mãos deles.

Abaixo, a introdução do documentário, para você entender como as coisas ocorrem.


Muito interessante perceber que, quando isso teve início (oficialmente é claro) com o Ato Patriota, as empresas não percebiam como podiam lucrar com os dados das pessoas, mas descobriram isso rapidamente, e hoje o uso do chamado BIG DATA associado a adoção de avançadas técnicas de análise de dados dotadas de inteligência artificial permite que eles classifiquem você e lhe direcionem conteúdo (na melhor das hipóteses), coletando uma quantidade de dados tão gigantesca a seu respeito que nem o mais doentio especialista em inteligência (espionagem) sonhava um dia ser possível na história humana, muito menos com a facilidade e docilidade com que os dados são coletados e, ingenuamente, cedidos pelas próprias pessoas. As empresas que coletam nossos dados nos conhecem muito melhor do que nós mesmos, e conseguem até prever nosso comportamento com essas informações.

O vídeo abaixo por exemplo, chamado Google is tracking you. Even when you're in Airplane Mode (O Google está te rastreando. Mesmo quando você está no modo avião) mostra uma pequena parte da situação absurdamente abusiva de invasão de privacidade em que vivemos atualmente.

Nele, você verá um jornalista fazendo um teste, usando um dispositivo de análise forence, em dois smartphones com Android - um com um simcard e outro sem. Basicamente ele saiu com os dois no bolso e deu uma volta pela cidade dele nos EUA, indo em um hospital, usando um táxi, e com um dos smartphones, tirando algumas fotos. O smartphone com simcard estava em movo avião. Ambos estavam sem conexão de gps ativa e muito menos conexões de dados.

O truque descoberto no vídeo é que os dispositivos coletavam absolutamente TUDO EM MODO SILENCIOSO (sem que o usuário soubesse). Registravam tudo o que ele fez, mesmo com o gps desligado, mas não transmitia os dados na hora, ele apenas os registrava no dispositivo para descarga futura.

Apenas quando o jornalista voltou para o laboratório, ligou-os no equipamento forence e se conectou à Internet com eles é que ambos começaram a descarregar os dados para os servidores do Google.

Interceptando os dados enviados com o dispositivo forence, ele descobriu que os aparelhos conseguiam saber até se ele esteve em um carro, a velocidade e direção para onde estava indo com data e hora, os lugares onde ele foi, se ele entrou ou saiu do carro e nos locais... enfim, rastreou tudo. E o aparelho que estava sem o simcard coletou e enviou MAIS informações do que o que estava com, como se houvesse alguma suspeita pelo fato de estar sem o chip.


Eu não sei se isso já acontecei contigo, mas, mais de uma vez, eu vivenciei situações assustadoras que corroboram isso. Meu celular estava fechado na bolsa, com a conexão de dados desligada. Eu estava conversando com uma amiga sobre um assunto aleatório, que era sobre como funcionava as apostas na loteria, como funciona essa questão de números, acertar a quina, etc (eu sou muito leiga sobre isso). A noite, chegando em casa, abri o Youtube para ver uns vídeos e adivinha só qual vídeo me foi sugerido logo de cara: explicações sobre como funcionam as apostas na loteria.

Isso já me aconteceu vezes demais (e com temas diferentes) para eu considerar apenas uma coincidência, então eu SEI que meu celular está me monitorando constantemente, mesmo quando eu acho que ele está desligado.

Sem que eu saiba, ele registra onde eu estive, infere com quem e o que eu falei, ouve meu microfone, acessa minha câmera, lê meus e-mails e minhas mensagens, sabe que vídeos e filmes eu assisto, que jogos eu jogo... como não achar isso assustador? Smartphones são maravilhas tecnológicas que amamos e que nos ajudam demais, mas são os mais perfeitos aparelhos de auto-espionagem já criados e nós andamos com eles para cima e para baixo o tempo todo sem nos importar.

Esse vídeo mostra algo que o documentário "Sujeito a Termos e Condições" relata logo no seu início, que é que os termos e condições legais com os quais temos que concordar para podermos usar os serviços são gigantescos, ninguém os lê (mesmo que queiram, são enormes e complexos demais), e eles ainda por cima possuem alguns absurdos mascarados por termos jurídicos que 99,9% das pessoas no planeta desconhecem ou não entendem como perigosos.

Desde o lançamento do documentário "Sujeito a Termos e Condições" em julho de 2013, as coisas pioraram (com tecnologias mais intrusivas e métodos de monitoramento em massa muito mais elaborados), mas ao mesmo tempo avanços legais foram criados ao redor do mundo para (tentar) salvaguardar a privacidade de pessoas em todo o planeta. A cibersegurança e a Internet são a ultima fronteira para a liberdade humana, disso não há dúvidas. Não entender os riscos práticos e potenciais que essa coleta absurda de dados tem para controlar e manipular populações inteiras dos pontos de vista econômico e político inorância.

Na Europa o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) foi um avanço legal que estabeleceu inúmeras regras e métodos de auditoria a fim de garantir que os dados de pessoas físicas sejam tretados de maneira que o proprietário dos dados (a própria pessoa) tenha plenos direitos e poderes de definir como seus dados serão usados e mantidos pelas empresas que lhe prestam serviço (Google, Facebook e qualquer outra onde uma pessoa crie uma conta de usuário).

No Brasil, por incrível que pareça, uma lei semelhante foi aprovada agora em 2018 e deverá entrar em vigor em 2020. A Lei Geral de Proteção a Dados (LGPD) é inspirada na legislação europeia e deverá dar plenos poderes aos proprietários dos dados (pessoas) quanto ao que serão feitos com seus dados em qualquer serviço online do qual façam uso, assim como sua manutenção ou cancelamento a qualquer momento, além de garantias de anonimato relativo.

Ambas as legislações a princípio abrem brechas para que governos possam consultar os dados mesmo sem o aval das pessoas sob condições específicas, como investigações criminais e prevenção a fraudes. Portanto, o acesso forence aos dados mediante autorização da justiça serão salvaguardados, assim como os dados necessários para atender outras legislações (sua ficha criminal por exemplo ou a escritura de seu imóvel no cartório está fora do seu poder de decisão) mas as próprias empresas não poderão mais acessar e usar os dados de maneira indiscriminada como fazem hoje.

Não há como negar que a lei, se cumprida, trará avanços na preservação da privacidade online.

Porém, se é realmente algo para nos proteger, ou se é só um embuste para nos anestesiar um pouco mais, ainda não há como saber.

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